Fala da CNI é "irresponsável" e "rasga a CLT", dizem sindicalistas

Representantes das centrais sindicais do país teceram fortes críticas à fala do presidente da CNI, Robson Braga Andrade, nesta sexta (8). Após encontro com o presidente interino Michel Temer, o empresário disse que a indústria está “ansiosa” por medidas “duras”, como a reforma da previdência e alterações na legislação trabalhista. A declaração foi classificada por sindicalistas como “irresponsável” e um ataque a “conquistas seculares da classe trabalhadora”.

Juruna e Adilson

Ao defender mudanças na legislação trabalhista, Andrade causou ainda mais reação por citar como exemplo o caso da França, afirmando que lá é permitido trabalhar até 80 horas por semana. Uma das bandeiras dos trabalhadores brasileiros é exatamente o oposto: reduzir a carga horária de 44 para 40 horas de trabalho semanais. 

O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, avaliou que as propostas do presidente da CNI atacam direitos e “rasgam a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]”.

Ele destacou que “a jornada de trabalho que conhecemos – composta por oito horas diárias, totalizando 44 horas semanais – foi estabelecida pela Constituição Federal de 1988. No entanto, Organização Internacional do Trabalho (OIT), na convenção de 1935, já recomendou redução da jornada para 40 horas semanais”.

De acordo com Araújo, economias importantes, como os Estados Unidos, adotaram as 40 horas recomendadas pela OIT. “Na Itália, por exemplo, a jornada de trabalho varia de 36 a 40 horas; na Alemanha trabalha-se em média 38 horas por semana”, disse.

“A CTB defende a redução da jornada para promover o crescimento da economia brasileira. A elevação do nível de emprego e dos salários vai fortalecer o mercado interno, ampliar o consumo e estimular os negócios no comércio e na indústria”, completou.

Ele lembrou que a plataforma de governo do presidente interino Michel Temer – com quem o presidente da CNI se reuniu antes de dar as declarações polêmicas – já apresentava retrocessos para os trabalhadores. “É uma sinalização à iniciativa privada de que fará tudo para agradar o patronato e o capital financeiro nacional e internacional”, classificou.

Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), o presidente da CNI “deveria ter mais responsabilidade com o que fala”.

“Nós estamos buscando nesse país um entendimento entre os trabalhadores e os empresários para uma saída que contemple todos. Ao fazer essa proposta, o presidente da CNI demonstra toda a sua insensibilidade no diálogo. Porque para fazer cumprir essa proposta, ele vai ter que por muita polícia na rua”, disse, afirmando que os trabalhadores resistirão a qualquer retrocesso em seus direitos.