“Rosso é o Cunha e o tempo dele acabou”, diz Daniel Almeida

A renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputado deu a largada para a corrida pela sucessão do cargo. Mesmo com mandato tampão, de apenas seis meses, o cargo terá papel fundamental nos destinos do Brasil. O governo provisório de Michel Temer (PMDB) é um dos mais preocupados e atua, junto com Cunha, para eleger um candidato que siga a cartilha.

Líder do PCdoB avalia manobras do “centrão” para sucessão na Câm

Até sábado, o presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PMDB-MA), havia reafirmado que a data da sessão para eleição do novo presidente respeitaria o regimento da Casa, que estabelece o prazo mínimo de cinco sessões a partir da renúncia para a realização de um novo pleito. Mas nesta segunda-feira (11), a informação dá conta de um suposto acordo feito entre Temer, líderes de partidos que querem entrar na disputa pela presidência da Câmara, junto com Waldir Maranhão, antecipando a eleição para quarta-feira (13).

A decisão seria um consenso, já que os aliados de Cunha queriam que a votação ocorresse nesta terça-feira (12), mesmo dia em que estava marcada a sessão da Comissão de Constituição e Justiça para analisar o recurso que pede que o processo de cassação de Cunha seja anulado no Conselho de Ética. A estratégia seria tumultuar a sessão, impedindo os debates e dando mais tempo para Cunha se rearticular e impedir a sua cassação. Na quarta, a sessão em plenário para eleição do novo presidente deve acontecer às 19 horas. Com isso, a CCJ terá dois dias livres para julgar o recurso de Cunha, que poderá empurrar a decisão para agosto, o que também dá mais tempo para Cunha.

Mas além do processo no CCJ, Cunha quer tentar emplacar o seu candidato na presidência da Câmara. Oficialmente foi lançado Rogério Rosso (PSD) como candidato, recebendo o apoio de Cunha e Temer. Rosso foi o presidente da Comissão do Impeachment que decidiu pelo afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT). Além dele, há outros quatro nomes na disputa, como Rodrigo Maia (DEM). O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, disse que a legenda apoiaria um candidato que Temer indicasse, caso o PMDB apoiasse o candidato tucano na eleição de 2017 para a presidência da Câmara.

Em entrevista ao Portal Vermelho, o líder da bancada do PCdoB, Daniel Almeida (BA), afirmou que Rosso faz parte de um bloco que busca fazer o sucessor para manter as manobras de Cunha. “É o candidato do Cunha. Eles querem que tudo seja feito de forma apressada para não permitir uma discussão sobre os desafios e conteúdo do funcionamento da Casa. Ele quer apenas que se referende a continuidade do Cunha”, afirmou.

E acrescenta: “Só que o tempo Cunha acabou. Não dá para continuar. O Brasil está olhando para isso assustado. Cunha sai e mantém seus representantes. Seria um absurdo. Seria entregar os anéis e manter as mãos dele manipulando. Isso seria desastroso”.

Segundo o deputado, “mais importante que o nome é o compromisso, o programa que se apresenta. Num mandato tampão, curtíssimo, esse compromisso é fundamental”. Ele disse ainda que a maioria dos parlamentares que lançaram candidatura não tem nenhuma pretensão de levar a eleição à frente.

“É apenas para criar espaço para algum tipo de negociação, impedimento ou valorização pessoal. Acredito também que tenham alguma manobra diversionista, no campo do Centrão sai muitos nomes para tentar dividir as atenções e impedir o debate principal”, disse.

Ele enfatizou ainda que Cunha e Temer são “inseparáveis”, portanto, o governo Temer atua de forma combinada para atender os seus interesses.

“O governo de Temer é inseparável do Cunha. Cunha é o tutor, o mentor desse governo Temer. E esse ato de renúncia está absolutamente combinado com o Temer. Foi uma associação de interesses dele com o projeto que ele representa. Não há como separar. As manobras que estão em curso estão sendo partilhadas pelo Cunha e Temer, pelo mesmo esquema que produziu o impeachment e garantiu a posse interina do Temer. Eles são inseparáveis”, destacou.

Já o deputado federal José Guimarães (PT-CE) disse que o objetivo é eleger um candidato que “possa restaurar a dignidade e decência do comando do parlamento brasileiro… Um nome mais amplo, para derrotarmos o candidato do Cunha, que é o Rogério Rosso”.

E completa: “A coisa caminha mais para alguns deputados que são dissidentes deste bloco, para construirmos uma unidade em torno desse nome que tem esse objetivo, que é a presidência da Câmara”, declarou, em entrevista ao Blog do Eliomar.