Aldo Arantes: D. Paulo Evaristo Arns, homenagem à coragem do Cardeal
Ao comemorar os 50 anos de bispado de d. Paulo Evaristo Arns manifesto minha admiração, gratidão e reconhecimento pelo importante papel que ele desempenhou na luta contra a tortura, pelos direitos humanos e em defesa da democracia e contra a ditadura militar de1964.
Por Aldo Arantes*, especial para o Vermelho
Publicado 02/08/2016 17:09

Destaco sua coragem pessoal. Sua atitude era uma afronta ao regime militar. Isso ficou claro quando, depois da Chacina da Lapa, em 1976, fui preso. Na tortura os carrascos xingavam o cardeal de todos os nomes imagináveis. Manifestavam um ódio imenso ao se referir à figura dele.
D. Paulo Evaristo Arns teve papel importante na vida, e na defesa da integridade pessoal, de incontáveis militantes democráticos.
Quando eu estava sendo torturado, minha mãe esteve comigo no DOPS. Estiveram comigo em momentos diferente os advogados Luiz Eduardo Greenhalg e , Marcelo Cerqueira.
Constatada a tortura minha mãe visitou o cardeal, a quem fez as denúncias sobre a situação minha situação.
Na oportunidade o Cardeal informou que o comandante do II Exército, General Dilermando Monteiro ao assumir o posto após os assassinatos Manoel de Fiel Filho e Vladimir Herzog, o procurou afirmando que enquanto estivesse no comando não haveria tortura.
E, quando tivesse indícios disso, autorizaria que um representante do cardeal visitasse o DOI-CODI.
Face aos acontecimentos minha mãe perguntou ao Cardeal o que deveria fazer ao que ele afirmou que ela deveria denunciar à imprensa – na época estava iniciando uma cera abertura à liberdade de imprensa. Mas alertava que poderia acontecer com ela o que aconteceu com seu filho. Ela afirmou que faria qualquer coisa em minha defesa.
Tomei conhecimento dessa conversa mais tarde, depois da anistia, ao falar com d. Paulo, quando fui a ele agradecer seu empenho.
Soube também que, logo depois – em 1977 – o general Dilermando o procurara; queria que o cardeal celebrasse a missa em 31 de março, pelo aniversário do golpe militar.
O cardeal não aceitou. Após várias tentavas o general resolveu falar pessoalmente com D. Arns. Na conversa insistiu que a celebração da missa seria muito importante para ele. Diante da insistência d. Paulo afirmou: vamos inverter os papéis – o senhor é o cardeal e eu o general. Quando assumiu o comando, o senhor me visitou e, sentado nessa mesma cadeira, diante do crucifixo que está na parede atrás de mim, o senhor me garantiu que não haveria torturas. E que daria licença, se houvesse indícios, para que um representante meu visitasse o DOI-CODI. Mas o Aldo Arantes e seus amigos foram torturados. E uma Delegação Internacional de Juristas Católicos, a meu pedido, foi proibida de visitar os presos.
Diante dessa situação, eu sendo o general e o senhor, o cardeal, pergunto: o senhor celebraria a missa? E o general Dilermando abaixou a cabeça nu sinal de que não celebraria.
Hoje, nos 50 anos de sua ordenação como bispo, presto homenagem a d. Paulo por sua coragem pessoal; por seu destemor. Pela luta que travou, contra as torturas, os assassinatos políticos, contra a repressão da ditadura e pela democracia.
Artigo publicado originalmente em 2 de agosto de 2016, pro ocasião das homenagens aos 50 anos de bispado de D. Paulo Ecaristo Arns.