Ana Mary Cavalcante: Entrelinhas

“Não sei se é porque sou mulher, mas só eu sei o quanto me custa manter a cabeça erguida e o coração valente”. Postei este retrato no Facebook, ontem, à medida que eu ouvia o discurso da presidente eleita Dilma Rousseff. Principalmente, no dizer de si mesma, estávamos nós duas no espelho, olhando uma para a outra. Foi quando ela falou: “Muitos hoje me perguntam de onde vem a minha energia para prosseguir. Vem do que acredito”.

Por Ana Mary C. Cavalcante*

dilma no senado

Acreditar é verbo que nos move tanto quanto amar. Aliás, um se liga ao outro, nas nossas engrenagens, na nossa natureza mais remota. Por isso, sustentamos uma casa, um casamento, um sonho. Por isso, parimos, e parimos, e parimos quantas vezes amarmos, atravessando todas as dores. Por isso, vamos à luta cotidianamente. Somos fé mais do que razão, graças a Deus. Assim, salvamos o sentir.

Nunca renunciamos à luta. Nunca. Envergamos e voltamos, violência após violência. Por tantas vezes, vimos de perto a face da morte. E é com todas as nossas forças que seguimos adiante, aprendendo a olhar nos olhos enquanto nos julgam e a nunca mais aceitar na nossa própria vida ameaças ou chantagens.

Não cedemos, resistimos. “Resistir para acordar as consciências ainda adormecidas para que, juntos, finquemos o pé no terreno que está do lado certo da história, mesmo que o chão trema e ameace de novo nos engolir”, espelhava-me Dilma, em sua defesa no Senado, firme em quase 70 anos de idade, torturada até a alma, mãe e avó que ainda acredita. “Quem acredita luta”.

Pediram que eu escrevesse um ponto de vista sobre o feminino em Dilma Rousseff, a partir de seu discurso histórico no Senado Federal deste agosto sem fim. Pois digo, de frente pro espelho, pro mundo e pro futuro que ainda virá: não mais esperem de nós “o obsequioso silêncio dos covardes”.

Somos capazes de criar gente, outro ser humano, e mais outro, e mais outro, até tecer uma manhã. “Posso olhar para trás e ver tudo o que fizemos. Olhar para a frente e ver tudo o que ainda precisamos e podemos fazer. O mais importante é que posso olhar para mim mesma e ver a face de alguém que, mesmo marcada pelo tempo, tem forças para defender suas ideias e seus direitos”.

*Ana Mary C. Cavalcante é jornalista.

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