Greve dos Bancários ganha força e pressiona empregadores 

Os bancários chegam fortalecidos para a negociação com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) nesta sexta-feira (9) em São Paulo.  O motivo é a força que ganhou a greve nacional, que segue para o terceiro dia registrando números superiores à campanha salarial do ano passado. Dirigentes bancários informam que a atual campanha reivindica, entre outros pontos, aumento real e também defende direitos trabalhistas e previdenciários ameaçados pelo atual governo.

Por Railídia Carvalho  

Greve dos Bancários 2016 - Manoel Porto

Segundo informações da bancária Andrea Barcelos, da Coordenação Nacional de Bancários da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) a greve nacional registrou nesta quinta-feira (8) um aumento de 13% nas paralisações em relação ao primeiro dia. 

Em São Paulo, Osasco e região, foram 822 locais de trabalho paralisados e cerca de 41 mil bancários aderiram à greve.
De acordo com informações publicadas no site da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), o primeiro dia de greve (6) resultou em 7.359 pontos paralisados, considerando agências, centros administrativos, Central de Atendimento (CABB) e Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC). 
Segundo o Banco Central, este número equivale a 31,25% do total de agências no Brasil. A Contraf informou que a adesão neste primeiro dia foi maior 17,7% que a adesão do ano passado. 
Preservar direitos
A proposta dos empregadores, que ofereceram 6,5% de reajuste mais abono salarial de R$ 3 mil, foi o estopim para a greve nacional. Entre as principais reivindicações dos bancários estão a reposição da inflação (9,57%) mais 5% de aumento real. A proposta dos empregadores impõe uma perda de 2,8% para os trabalhadores.
 
“O bancário está consciente de que o risco de demissão é cada vez maior e que a gente nem pode parar essa luta mesmo que finalize a greve. A gente tem uma luta bem maior que é a questão do governo golpista que quer empurrar goela abaixo do trabalhador medidas que violam direitos garantidos na Constituição”, observou Andrea.
Desemprego
O bancário Augusto Vasconcelos, presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, alertou que nos últimos 12 meses foram eliminados 10 mil postos de trabalho entre os bancários no país. O fim das demissões e o aumento das contratações estão incluídas na pauta de reivindicações. 
 
O dirigente elogiou o processo coletivo de construção da pauta de reivindicações e a importante vitória obtida no primeiro dia de greve. “A adesão inicial levou a Fenaban a marcar nova rodada para esta sexta. Esperamos, desta vez, uma proposta digna, que respeite os trabalhadores”, disse Augusto.
Na opinião dele, os 6,5% oferecidos como reajuste são “uma proposta inaceitável” e lembrou que no primeiro semestre deste ano os cinco maiores bancos do país lucraram R$ 29,7 bilhões.
Preservar a política de aumento real
“O bancário percebeu que não é mais uma campanha salarial mas está dentro de um contexto maior de ameaça de direitos”, lembrou Emanoel, presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe.
Segundo ele, os empregadores querem implementar desde o ano passado a “política do FHC e dos banqueiros da década de 90”, substituindo o aumento real por abono, o que naquele período resultou em perdas para o trabalhador. 
“O abono não incorpora no salário, o que levou a perdas salariais muito grandes, inclusive nos bancos públicos. Então a categoria tem isso em mente. Enfrentamos com força no ano passado e retomamos com força agora também”, disse Emanoel.
Banqueiros no positivo
O bancário e presidente da CTB, Adilson Araújo, afirmou que o ranço conservador é o que leva os bancos a uma política de arrocho salarial. “Enquanto os outros setores recuam os bancos lucram. Não tem tempo ruim para o banqueiro. Eles têm condições de apresentar uma proposta melhor”, comparou Adilson.
 
O sindicalista lembrou que do outro lado da mesa está uma categoria que é das mais vitimadas por doenças ocupacionais e pela política de metas dos bancos que leva os trabalhadores à exaustão.
“A greve está indo bem, é de resistência. Vem reclamar dos baixos salários, das péssimas condições de trabalho, da insegurança já que eles (os banqueiros) têm investido pouco em saúde e segurança porque tratam essas áreas como despesa e não como investimento”, enfatizou o sindicalista.
Precarização
Além do combate à terceirização que tramita no Senado na forma do PLC 30/2015, Augusto citou ainda outros projetos aos quais os bancários se opõem. São eles os projetos de precarização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ou negociado sobre o legislado e a sinalização pelo governo de Michel Temer de aumento da idade mínima para a aposentadoria.
 
Principais reivindicações dos bancários (Fonte: Contraf)
 
Reajuste salarial: reposição da inflação (9,57%) mais 5% de aumento real.
 
PLR: 3 salários mais R$ 8.317,90.
 
Piso: R$ 3.940,24 (equivalente ao salário mínimo do Dieese em valores de junho último).
 
Vale alimentação no valor de R$ 880,00 ao mês (valor do salário mínimo).
 
Vale refeição no valor de R$ 880,00 ao mês.
 
13ª cesta e auxílio-creche/babá no valor de R$ 880,00 ao mês.
 
Melhores condições de trabalho com o fim das metas abusivas e do assédio moral que adoecem os bancários.
 
Emprego: fim das demissões, mais contratações, fim da rotatividade e combate às terceirizações diante dos riscos de aprovação do PLC 30/15 no Senado Federal, além da ratificação da Convenção 158 da OIT, que coíbe dispensas imotivadas.
 
Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS): para todos os bancários.
 
Auxílio-educação: pagamento para graduação e pós.
 
Prevenção contra assaltos e sequestros: permanência de dois vigilantes por andar nas agências e pontos de serviços bancários, conforme legislação. Instalação de portas giratórias com detector de metais na entrada das áreas de autoatendimento e biombos nos caixas. Abertura e fechamento remoto das agências, fim da guarda das chaves por funcionários.
 
Igualdade de oportunidades: fim às discriminações nos salários e na ascensão profissional de mulheres, negros, gays, lésbicas, transsexuais e pessoas com deficiência (PCDs).