João Guilherme: Insolúvel contradição
Há uma contradição insolúvel entre a falta de legitimidade da presidência de Temer e de seu governo e a pauta fundamentalista que muitos de seus apoiadores, vozes da grande mídia e o “mercado” querem que seja executada.
Por João Guilherme Vargas Netto*
Publicado 08/09/2016 15:28

Em uma versão cínica ecoam as palavras de um dos mais influentes dignitários (presentemente desemestrado do ministério) que afirmou, sempre em off, que nenhum governo eleito poderia tentar fazer o que nosso governo precisa fazer.
Mas o exagero pode pagar seu preço como um roteiro para o fracasso.
A colunista Miriam Leitão afirma, com o título acima, que “se o governo de Michel Temer quiser fracassar é fácil. O roteiro é: tirar qualquer direito de acesso ao FGTS em pleno mar de desemprego, dar novos aumentos ao topo do funcionalismo público, mandar mensagens ambíguas sobre o ajuste fiscal, adiar a reforma da Previdência e acreditar que a aprovação do teto para as despesas resolve todos os problemas fiscais”.
De que erros fala a colunista? Dos cinco citados por ela, apenas um, o da restrição dos saques do FGTS contraria a pauta neoliberal. Os outros quatro, disciplinada e coerentemente, a reforçam. Portanto, 4×1 para um agravamento da contradição insolúvel que apontei no início deste artigo.
E olha que nem mencionei a manchete interna do jornal O Globo do mesmo dia (7/9) em que a colunista foi publicada, da matéria em que o Ministro do Trabalho diz que a proposta de reforma trabalhista vai prever jornada intermitente, com direitos proporcionais e o contrato de trabalho por hora.
Razão têm os metalúrgicos filiados a todas as centrais sindicais (reconhecidas ou não) que, por meio de seus representantes mais destacados, reafirmaram a pauta comum de resistência à quebra dos direitos e de exigência da retomada do desenvolvimento combatendo o desemprego e convocando para o dia 29 de setembro uma jornada nacional.
Razão têm também os bancários em greve na sua campanha salarial e os petroleiros que enfrentam, buscando a unidade, a direção da Petrobrás que os acossa e procura dividi-los.
Para enfrentar o fundamentalismo do “mercado” e as vozes frenéticas que o apoiam nada mais recomendável que a unidade de ação no movimento sindical e a efetivação das muitas lutas (no Congresso Nacional, nas ruas e nas empresas) que esta postura exige, mesmo que isso agrave a já insolúvel contradição.
*É consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo
**Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho