Mao Tse Tung vive no coração do povo chinês

Demonizado pelos anticomunistas de sempre, tanto no Ocidente quando no Oriente, nesta sexta-feira (9) abundaram na mídia corporativa linhas críticas e considerações enviesadas sobre o líder e fundador da República Popular da China, o camarada Mao Tsé Tung, um dos marxistas-leninistas mais influentes do planeta no século 20 e hoje.

Por Humberto Alencar*

Mausoléu que guarda os restos mortais de Mao Tsé Tung

Mao Tsé Tung segue extremamente popular na China, onde cada casa tem um retrato seu e onde os cidadãos guardam profundo apreço por ele. Prova disso são inúmeros relatos que a mídia corporativa ocidental colheu ao entrevistar populares na China nesta data, que marca o 40º ano da sua morte.

Aliás, a mesma mídia que afirma ter o camarada Mao desaparecido do noticiário porque o Partido Comunista tem "ressalvas", omite a informação de que a cultura chinesa não comemora, ou relembra, aniversários de morte. É por isso que os principais meios de comunicação não chamaram a atenção para a passagem "redonda" dos 40 anos da morte do Grande Timoneiro.

Fosse mais cuidadosa, menos parcial, menos omissa e um pouco honesta, a imprensa internacional teria trazido a informação de que, nos 120 anos do nascimento de Mao, em 26 de dezembro de 2013, o camarada Xi Jinping fez um discurso laudatório, dizendo que procura olhar para Mao para ter a inspiração para dirigir o país.

Mausoléu de Mao Tsé Tung, em Pequim

O povo, em sua massacrante maioria, é nostálgico em relação ao período que Mao dirigiu o país. Além de erguer estátuas, cria em suas residências verdadeiros "santuários" em agradecimento a Mao. Não é à toa. A Revolução liderada por ele retirou o povo de sua condição de mendicância, retirou o país do feudalismo, da subserviência aos colonizadores e deixou a República Popular da China com alicerces prontos para a construção do que é hoje a segunda maior economia do planeta.

Ao contrário do que prega, a própria mídia ocidental revela em alguns artigos conta-gotas, que os maoistas continuam exercendo suas atividades no país e no Partido Comunista. O leigo, mal informado, acredita que maoistas já não existem mais em parte alguma e que tinham sido varridos.

"A Revolução Cultural (1966-1976) foi a única altura em que os pobres na China foram tratados com dignidade", opinou à agência Lusa o acadêmico e comentador chinês Zhang Hongliang.

"Tinham habitação e educação gratuita e boas pensões. E, acima de tudo, a coragem para se erguerem perante burocratas e intelectuais", então apontados como inimigos de classe, conta.

Professor de Economia na Universidade Central das Nacionalidades, em Pequim, Zhang é um dos mais proeminentes representantes do maoismo. "Pela primeira vez na História, a classe explorada derrubou os seus exploradores", aponta.

Nascido em 1893 em uma família de camponeses em Shaoshan, Hunan, Mao derrotou o impopular regime do Kuomintang e fundou a República Popular da China. Os 27 anos que dirigiu o país foram marcados por uma industrialização radical, movimentos de massa e conflitos. Em 1982, o PCCh reavaliou os erros de direção de Mao com críticas, mas jamais deixou de considerar seu legado.

As reformas iniciadas por Deng Xiaoping acabaram reforçando no povo a figura de Mao, da época em que a população vivia em condições menos desiguais, bem diversa das diferenças socioeconômicas abissais criadas depois da abertura para o mercado.

Milhares de pessoas se reúnem anualmente em Shaoshan, vilarejo natal do líder, para comemorar a data de seu nascimento, no dia 26 de dezembro.

Segundo um texto publicado pelo jornal Global Times em dezembro, nas zonas rurais o fundador da República Popular “é adorado ao lado de outras deidades populares como o Imperador de Jade ou o Deus da Riqueza. As pessoas rezam para ele a fim de que as liberte das desgraças, para terem um filho homem ou para enriquecer rapidamente”. Em províncias como Hunan, onde ele nasceu, ou Cantão, há até mesmo templos dedicados a ele.

Importantes intelectuais como o acadêmico Sima Nan e o ideólogo Guo Sonming, chegaram a subscrever uma petição pública, juntamente com milhares de assinaturas, a favor de se instituir o dia do nascimento de Mao como feriado nacional.

Mausoléu de Mao Tsé Tung

Há dez anos, neste mesmo 9 de setembro, na companhia do camarada Elias Jabbour, perguntamos a um jovem lojista chinês que vendia máquinas fotográficas em um extinto centro comercial na avenida Paulista, em São Paulo, qual era a personalidade mais importante de seu país. O lojista, sem titubear, mesmo em seu parco conhecimento da nossa língua, afirmou com um brilho nos olhos que era Mao Tsé Tung. "Sem ele, eu não teria nem nascido", afirmou.