Plínio Bortolotti: A queda
PT, PCdoB e PSol "caíram defendendo uma ideia: a salvaguarda da democracia contra um golpe parlamentar ou a defesa das políticas dos governos petistas. Não recuaram; não se acovardaram; não capitularam a uma suposta “voz das ruas”, que sempre deve ser ouvida com cuidado, pois nem sempre está certa”.
Por *Plínio Bortolotti
Publicado 15/09/2016 10:26
As quedas de Dilma Rousseff e de Eduardo Cunha mostram a diferença entre partidos de convicção (sem entrar no mérito da ideologia que professam) daqueles que agem por interesses menores, visando somente ao “lucro” (com aspas e sem aspas) imediato de suas ações.
O Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Partido Socialismo e Liberdade (Psol) – este apesar das críticas aos governos petistas – mantiveram-se contra o impeachment, mesmo quando havia uma avalanche contra a ex-presidente Dilma Rousseff; quando manifestar-se contra o afastamento atraía xingamentos e agressões em lugares públicos.
Caíram defendendo uma ideia: a salvaguarda da democracia contra um golpe parlamentar ou a defesa das políticas dos governos petistas. Não recuaram; não se acovardaram; não capitularam a uma suposta “voz das ruas”, que sempre deve ser ouvida com cuidado, pois nem sempre está certa – e basta consultar a história para verificar essa verdade.
E o que aconteceu com Eduardo Cunha, que exerceu uma espécie de reinado na presidência da Câmara dos Deputados e chegou a ser chamado de “o homem mais poderoso da República”?
Cunha não construiu o seu poder à força de ideias, de programa ou de qualquer conceito de política, por mais troncha que seja a definição. Ascendeu pela corrupção, pela chantagem, pelo constrangimento, pela compra de apoios. Ele formou um exército de mercenários, pronto a atender ao seu comando mercantil.
Quando a fonte secou, Cunha viu-se só. Do topo – onde ficava a sua cadeira presidencial – e de onde distribuía raios e pautas-bomba -, viu-se isolado na planície do plenário. O PMDB atirou-a à arena dos leões, PSDB e DEM deram-lhe as costas e os partidos de aluguel esgueiraram-se para suas tocas. Seu exército de aluguel desertara.
Mas a história ainda não terminou. O sistema que permite a existência de “Cunhas” continua ativo. E, se nada for feito, outros surgirão para ocupar o espaço, pois, em política ou na máfia, não existe vácuo de poder.
*Plínio Bortolotti é jornalista do O POVO
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