Dirigentes de centrais repudiam uso político da Lava Jato

Nesta segunda-feira (26), o ex-ministro Antonio Palocci foi preso pela Operação Lava Jato. Na semana passada, o ex-ministro Guido Mantega também foi preso dentro do hospital, quando acompanhava a esposa que faz tratamento contra o câncer. Ambos integraram os ministérios do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff. Na opinião de dirigentes de três centrais sindicais, as instituições devem funcionar mas é preciso repudiar qualquer uso político da Lava Jato.

Por Railídia Carvalho

Centrais na Paulista dia 22 de setembro

A seletividade da Operação Lava Jato é apontada pelo presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo. Ele definiu a Lava Jato como “um projeto de desconstrução nacional”.

“A operação tem tomado medidas políticas. Age de forma parcial. Existe, de certa forma, um intuito de criminalizar a esquerda e os movimentos sociais”, afirmou o dirigente.
Douglas Izzo, presidente da Central Única dos Trabalhadores de São Paulo (CUT-SP), reforçou a declaração de Adilson. Segundo ele, a operação faz “vista grossa” quando se trata de denúncias contra os partidos considerados de direita.
 
“Não há pedidos de prisão, se faz uma espécie de vista grossa. Agora, quando é para outros partidos as ações são efetivas. Na minha opinião isso tem dois objetivos: desmobilizar a esquerda no Brasil, que luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e da democracia, e  influenciar no processo eleitoral”, argumentou.
Uso político
Neste domingo (25), em campanha em Ribeirão Preto (SP), o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, anunciou durante discurso que “teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”. As declarações do ministro foram publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
 
Moraes tentou minimizar as declarações mas o caso levantou questionamentos acerca da autonomia da Polícia Federal em relação ao governo de Michel Temer. 
 
Imparcialidade
Para os dirigentes da Força Sindical João Carlos Gonçalves, o Juruna, e Miguel Torres, a população está exigindo punição para aqueles que tenham cometido crimes mas enfatizam que a lei precisa ser igual para todos.
“Não podemos ser contra [a Lava Jato]. Tem que punir quem deve mas tem que ser imparcial. A população está exigindo isso. Agora usar politicamente não podemos admitir.  Se está caminhando pra isso temos que exigir que todos tenham os mesmos direitos”, disse Miguel, que é vice-presidente da entidade.
Secretário-geral da Força, Juruna declarou que as centrais devem aumentar a mobilização em torno da defesa dos trabalhadores. “O que não significa que concordamos que o Judiciário ou qualquer outro sistema sirva de instrumento de perseguição política. Isso precisa ser repudiado veementemente”, ressaltou.
Acordo de leniência
Adilson Araújo lembrou os prejuízos provocados pela Lava Jato nos postos de trabalho no país, sobretudo na indústria naval. “A ação da Lava Jato não é só com as pessoas físicas mas com as pessoas jurídicas. Como fruto da Lava Jato não se conseguiu dar consequência aos acordos de leniência para que se retomasse a produção”, relembrou Adilson.
 
 O acordo de leniência funciona como uma espécie de delação premiada, voltada para pessoas jurídicas. A empresa admite que cometeu crimes, entrega outras firmas que participaram do cartel e devolve o dinheiro desviado aos cofres públicos. Em troca, pode continuar a funcionar, a obter empréstimos e ser contratada pelo poder público.
“Com a Lava Jato, a indústria da construção sofre, a indústria naval paralisou depois do boom que Lula permitiu com a construção de navios, estaleiros, da política de conteúdo local. Tudo isso está ruindo.  E de fato sinaliza que toda essa movimentação orquestrada pela Lava Jato termina sendo um esteio para a abertura do Estado para a operação de empresas de interesse privado e de capital estrangeiro”, observou Adilson.
Juruna completou dizendo que o acordo de leniência é uma lei que condena os diretores das empresas que tenham a culpa comprovada mas não prejudica as empresas. “Quando você prejudica as empresas elimina várias vagas de trabalho”, salientou.