Autor de livro sobre Mãos Limpas estranha soletvidade da Lava Jato

Gianni Barbacetto, um dos autores de Operação Mãos Limpas – A verdade sobre a operação italiana que inspirou a Lava-Jato, em entrevista ao jornal Zero Hora publicado neste sábado (15), disse que existem muitas diferenças entre a Operação Mãos Limpas, na Itália, e a Lava Jato, no Brasil, uma delas é a seletividade das investigações.

Gianni Barbacetto autor de livro sobre Mãos Limpas.jpg - Arquivo Pessoal

"Apesar de saber pouco sobre a situação brasileira, estou surpreso que apareçam acusações só contra o PT e seu líder Lula, porque parece-me que todo o sistema está envolvido pela corrupção", disse o autor do livro que o juiz Sérgio Moro faz a apresentação. Por vezes, Sérgio Moro afirmou que a Lava Jato foi inspirada pela Mãos Limpas.

Segundo Gianni Barbacetto, na Itália, após a Mãos Limpas, vários partidos foram atingidos pelas investigações, sendo que cinco partidos do governo, e um partido de oposição mudou de nome e de programa. "Isso aconteceu porque os cidadãos, depois que souberam da corrupção através das investigações conduzidas pelos magistrados, não quiseram mais votar nesses partidos. Isso levou ao surgimento de novos partidos e mudou todo o sistema político, nasceu naquele momento na Itália o que se denomina a "Segunda República"", conta.

De acordo com ele, o resultado real, no entanto, foi diferente do esperado. Após a Mãos Limpas, houve uma mudança total do sistema político, mas "só depois percebemos que a mudança era apenas aparente e que a vitória de Berlusconi (que até então era um "novo" político), na verdade, garantiu uma certa continuidade do sistema anterior".

"No Brasil, porém, parece-me que desde o início o sistema continua como antes e será apenas Lula a pagar", completa.

Diferentemente das pretensões de Moro e dos procurados do Paraná, o autor afirma que a suposta "renovação" da política não deve ser feita pelo Judiciário.

"Isso não depende do Poder Judiciário, mas da política. Os magistrados podem agir sobre os crimes que são descobertos, mas devem ser os políticos, se quiserem e se conseguirem, a criar um novo sistema político limpo e incorruptível. É preciso, no entanto, que a nova política realmente não tenha compromisso com o sistema anterior", enfatizou.