Comunistas podem voltar a ter candidato próprio à Presidência

No dia 4 de novembro, o Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) anunciou que “buscará protagonismo na sucessão de 2018, examinando a possibilidade de lançamento de candidatura própria a presidente da República”. A informação repercutiu positivamente na mídia. No processo de exame – se lançará ou não, e quem –, o Partido deve aprofundar também a proposta de projeto de Brasil, o programa a ser apresentado aos eleitores em 2018.

Por Carlos Pompe*

Lula passa a Presidência para Aldo Rebelo, em 2006 - Foto: Presidência da República

O Partido já ocupou a função máxima do país. Quando presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) assumiu, dia 12 de novembro de 2006, a Presidência da República, devido a uma viagem do então presidente Lula à Venezuela – o vice, José Alencar, estava em tratamento médico nos Estados Unidos. Lula retornou ao país na noite do dia 13 e Aldo voltou à Presidência da Câmara.

O cargo foi transmitido a Aldo por Lula em cerimônia no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Naquele momento, o comunista comentou: “Eu sei que essa responsabilidade tem uma dimensão muito importante, resultado da vida democrática madura que o nosso país está alcançando”. Na época presidente do PCdoB, Renato Rabelo afirmou: “Este momento tem valor simbólico muito forte. Na maior parte da história não podíamos nem aparecer, e hoje estamos na Presidência da República”, referindo-se aos tempos de clandestinidade do Partido Comunista.

Pioneirismo

O Partido Comunista já lançou, anteriormente, candidato próprio à Presidência da República. Em 1929, apenas sete anos após ter sido fundado, apresentou, através do Bloco Operário e Camponês, a candidatura do operário negro Minervino de Oliveira para presidente da República. Foi o primeiro candidato operário à chefia da nação. À época, o órgão central do Partido, A Classe Operária, publicou artigo conclamando: “Votar em Minervino de Oliveira significa votar pela revolução”.

“Votar nos candidatos operários, apresentados pelo Bloco Operário e Camponês, será uma formidável manifestação da vontade de luta das massas trabalhadoras, contra os seus exploradores e opressores, nacionais e internacionais.” (Edição de 15/02/1930)

A campanha do BOC foi duramente reprimida e houve denúncias de que seus votos foram roubados.

Na eleição de 1945 – que incluiu a votação para a Constituinte de 1946 –, o Partido, que recém conquistara a legalidade, apresentou Yedo Fiúza como candidato a presidente. Ele angariou mais de 569 mil votos (quase 10% do eleitorado!). Engenheiro gaúcho, prefeito de Petrópolis (RJ) por quatro vezes nos anos 1930, Fiúza não era comunista, mas se colocou à disposição para ajudar o Partido naquele pleito. Ocupou o 3º lugar em 27 dos 28 estados/territórios, obtendo ainda a 2ª colocação no então Território de Fernando Noronha, e uma única vitória sobre Dutra (vencedor da eleição), no Território do Rio Branco.

Em maio de 1947 o registro do Partido foi cassado arbitrariamente pelo Tribunal Superior Eleitoral e só foi reconquistado 38 anos depois, com o fim da ditadura militar. Desde então, apoiou as candidaturas de Lula e, depois, Dilma. Agora, coloca-se o desafio de discutir candidatura própria para a Presidência em 2018.