Aos 70 anos, Alceu Valença mantém o desejo de ser o Brasil

Nesta quinta-feira (15), o pernambucano Alceu Valença esbanjou toda a sua vitalidade no Circo Voador, no Rio de Janeiro. No ano em que completou 70 anos, o cantor e compositor estreou o show Vivo! Revivo! que deve ir para a Europa em 2017. É um recorte da música de Alceu, no caso a produzida nos anos 70, e traz o fôlego estético de uma carreira marcada pela diversidade de ritmos e gêneros.

Alceu Valença, 70 anos - Reprodução redes sociais Alceu Valença
Alceu é o agreste e o carnaval, mas também é rock. “Um rock que não é rock”, nas palavras dele, de acordo com texto publicado no site do artista. Alceu é o desejo de ser o Brasil, como ele deixa claro durante o show no Rio em que canta ao lado de Geraldo Azevedo as músicas Me dá um Beijo (Alceu Valença) e Táxi Lunar (Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho).
 
Nascido pernambucano, em 1º de julho de 1946, Alceu é filho da sonoridade do sertão. Vindo de São Bento do Una (PE) para a capital, Recife, viu chegar aos ouvidos a música dos canaviais, do litoral, o carnaval, maracatus, cirandas e frevos. 
 
Poesia e cinema eram linguagens que também seduziam o jovem Alceu. O gosto pela música, porém, não era visto com bons olhos pelo pai do artista. A escolha pela carreira de Direito levou Alceu aos Estados Unidos nos anos 60, onde combinava as palestras na Universidade de Harvard com as apresentações de xote, emboladas e baiões nas praças públicas. 
“Para mim, o palco é o nirvana”, ele definiu em entrevista em novembro ao jornal O Estado de São Paulo. Esse estado de alma de Alceu viralizou na internet em agosto deste ano no período das Olimpíadas, no Rio. 
 
O palco desta vez foi uma rua do bairro em que ele vive no RJ.  Transitando, Alceu encontrou músicos estrangeiros tocando um dos grandes sucessos dele, Anunciação. Ele se juntou ao grupo para cantar. Depois afirmou nas redes sociais: “Artista que toca com a alma é uma maravilha. Quem toca sem a alma é entretenimento. É uma m…”, declarou. O resultado são 7 milhões de visualizações do vídeo gravado pela mulher de Alceu.
 
O compositor também não usa de meias palavras quando fala da questão política nacional. Em entrevista ao portal UOL, publicada neste mês por ocasião dos 70 anos, ele se mostra receoso com as ações da operação Lava Jato, por exemplo.
 
“No momento que você julga alguém e esse alguém não foi condenado, a coisa é tão grande que ele nunca mais deixará de ser ladrão. Que se procurem tudo o que acontece de roubo entre as empresas privadas, os políticos, tudo tudo tudo tudo. Apoio totalmente. Mas sou formado em direito, e digo o seguinte: tem que ter prova, e tem que ser contundente, para você não lavar as mãos como Pôncio Pilatos”, opinou Alceu.
 
Para ele, vive-se atualmente uma “ditadura internética”, em que cada um fica com uma posição, sem diálogo. Afirma que hoje “ficamos dentro de casulos”. “É meio complicado isso aí. Quando você fecha uma questão, você perde a possibilidade da discussão e a discussão sempre é salutar. Eu ainda sou meio socrático, meio aristotélico. Gosto muito de lógica… (pausa) Eita, homem doido da porra! Você não sabia que eu era tão doido assim, né? (risos)”, completou Alceu ao portal UOL.
Em 40 anos de carreira, Alceu Valença é autor de clássicos que sempre serão entoados pelo público de qualquer cidade ou faixa etária. Tropicana, Coração Bobo, Estação da Luz, Na Primeira Manhã, Belle du Jour, Anunciação, Dia Branco são algumas das composições gravadas no coração do povo.
 
Além do show que mostra a trajetória de Alceu anterior ao sucesso alcançado junto ao público, a comemoração dos 70 anos trouxe lançamentos e relançamentos de discos de carreira de Alceu, entre eles, os discos dos anos 70 em vinil em uma caixa com 4 lps, entre eles Saudades de Pernambuco, gravado em Paris em 1979. Um presente para os admiradores do músico.
 
“Estou com 70. Eu corro, eu ando, eu sou infantil, às vezes. Eu brinco, eu ando dez mil passos por dia, eu pulo no palco do jeito que eu quiser. O tempo para mim não tem tempo”, entregou Alceu.

Confira trecho do show de Alceu Valença no Circo Voador no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (15)