Luciano Siqueira: Temer brinca com fogo 

Parte da narrativa destinada a justificar o atual (espúrio) governo, tudo de ruim é posto na conta de Dilma Rousseff e do PT. Um artifício de nenhuma ressonância na população e de frontal contraste com a promessa dos que promoveram o impeachment da presidenta de que, consumado o golpe, o país voltaria a crescer e que tais.

Luciano Siqueira: Temer brinca com fogo - Divulgação

Ora, daqui a alguns meses o atual inquilino do Planalto completará um ano de gestão. Agora sob desconfiança generalizada, inclusive daqueles a quem pretende servir preferencialmente, o todo poderoso setor rentista.

E na população em geral, o mal estar tende a crescer continuamente.

No fim do ano passado, o IBGE anunciou o que não acontecia há onze anos: a queda do rendimento médio do trabalho em todas as classes sociais.

Os números negativos se referem a 2014 e 2015 e dão conta de uma redução da remuneração média em 5%, de 1,95 para 1,85 mil reais.

Para completar, o PIB (Produto Interno Bruto) continua em declínio, sem perspectiva imediata de recuperação.

O razoável seria o governo compensar essas perdas através de políticas sociais – entre as quais está o Bolsa Família, que alcança cerca de 14 milhões de famílias de baixa renda.

Esse programa, segundo avaliação da ONU, se destaca como o mais bem sucedido programa compensatório do mundo e teve peso decisivo para a retirada do Brasil do mapa da pobreza.

Um programa dessa dimensão, num país marcado por distorções institucionais e pelo clientelismo político, nunca ultrapassou 4% de desvios – o que significa altíssimo grau de correção e de transparência, segundo os padrões mundiais.

Mas, como umas das linhas mestras do governo Temer é reduzir gastos com programas que beneficiam os pobres, o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário recentemente cancelou ou bloqueou 1,12 milhão de benefícios do programa. Em nome da e da transparência (sic).

Enquanto isso, nenhuma medida de comprometimento dos detentores das grandes fortunas, nem alteração essencial na macropolítica econômica ultra-concentradora de renda e riqueza – que, diga-se, nem Lula nem Dilma foram capazes de arrostar.

Nas condições de hoje, Temer e seu grupo brincam com fogo – literalmente. Pois, além dos cortes continuados de recursos destinados a programas sociais, engata a marcha das reformas previdenciária e trabalhistas, dando combustível à revolta de milhões de brasileiros que se sentem desalojados de conquistas e de direitos.

Onde há contradição, a luta surge. Inevitavelmente. Pois é próprio do ser humano reagir às adversidades.

Ainda que os movimentos sociais organizados patinem na busca de uma agenda comum e, na esfera política, engatinhe a construção de uma plataforma que venha a lastrear uma ampla frente oposicionista, já nesse primeiro semestre muita luta haverá de rolar nas ruas.

Publicado originalmente no Blog da FolhaPE.

(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.

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