Enquanto país afunda na recessão, Santander amplia lucros

Enquanto o setor produtivo definha e os trabalhadores pagam o preço da recessão, o setor financeiro do país continua de vento em popa. Em meio à recessão, os resultados do Banco Santander  no Brasil ajudaram a aumentar o lucro do grupo internacional, que subiu 4% em 2016, em relação ao ano anterior. 

lucro dos bancos

Segundo padrão contábil espanhol, o Santander apurou lucro líquido de 1,786 bilhão de euros no Brasil em 2016, cifra 9,5 por cento maior ante 2015. O desempenho melhor no Brasil e em outros mercados da América Latina ajudou o banco a lidar com um aperto das margens na Europa, diz comunicado.

No Reino Unido, segundo principal mercado para o Santander depois do Brasil, o lucro líquido do banco caiu quase 15 por cento em 2016, para 1,68 bilhão de euros.

E, se a recessão do governo Michel Temer reduziu empregos e o poder de compra da população, por outro lado, fez com que o Brasil representasse 21% do lucro mundial do conglomerado financeiro.

A explicação para que, em um momento no qual toda a economia vai mal, os bancos continuarem ampliado seus resultados está nas elevadas taxas de juros e no altíssimo spread existentes no país. 

O spread é a diferença entre o que banco cobra para emprestar recursos e o que paga para tomá-los emprestado. É dele que a empresa tira o lucro, depois de pagar os impostos e cobrir os custos administrativos e ligados ao risco de inadimplência.

Embora o Banco Central tenha iniciado um movimento para fazer baixar os juros, ele não tem sido apontado como suficiente para fazer melhorar a situação da economia. O Brasil continua sendo um país com taxa muito elevada para os padrões internacionais.

"Considerando a projeção do Boletim Focus (média do "mercado"), a inflação (IPCA) para o ano 2017 é de 4,8%. Considerando ainda que a inflação fechou em 6,3%, em 2016, a média esperada de 2017 é de 5,5%. Portanto, o juro real projetado (Selic-IPCA) está agora em quase 7,5% ao ano. De longe, a mais alta do mundo e muito acima da rentabilidade média das atividades produtivas. Ou seja, continuamos (muito!) fora da curva.", diz o economista da PUC-SP, Antônio Corrêa de Lacerda.

O economista Paulo Kliass também destaca que o único setor que continua a apresentar lucros bilionários em uma economia que se vê mergulhada em recessão por dois anos é o sistema financeiro.

"O “spread” praticado por eles [os bancos] seria de envergonhar qualquer cidadão comum, empresário ou dirigente político. Relatório oficial do BC a esse respeito, mostra taxas de 482% nas operações de cartão de crédito para pessoas físicas ou de 339% no cheque especial para pessoas jurídicas. A média das taxas de juros para pessoas físicas era de 73% e de 30% para as empresas. Tudo isso enquanto o custo do dinheiro para os bancos emprestadores está na faixa de 13% ao ano. Uma loucura!", critica.