Espírito Santo troca diálogo por repressão e indicia 703 militares

Diante do caos na segurança pública do Estado, a solução encontrada pelo governo do Espírito Santo foi indiciar 703 policiais militares (PMs) pelo crime de revolta. A decisão veio um dia depois de fracassa as negociações com as mulheres do militares. Desde sábado (4), o ponto foi cortado.

Hartung

"Está iniciado o processo de responsabilização, tanto no aspecto militar quanto criminal", declarou o secretário de Segurança Pública do estado, André Garcia. A pena prevista para os policiais envolvidos pode chegar a 20 anos de prisão.

"Esse movimento é realizado pelos praças (soldado, cabo, sargento e subtenente). Não é um movimento dos oficiais", afirmou o comandante-geral, coronel Nylton Rodrigues, em entrevista à imprensa na sede da Secretaria de Segurança Pública. "Nossa tropa escolheu a forma errada [de negociação]. Não se negocia com a arma na cabeça", disse ele se referindo ao acampamento de familiares de militares em frente aos batalhões, impedindo a saída ao trabalho.

Até agora o governo capixaba não conseguiu apresentar uma proposta que pudesse encerrar o movimento grevista. Com o ajusta fiscal do governo de Michel Temer (PMDB), os estados não tem qualquer perspectiva de avançar numa alternativa que atenda às demandas dos servidores.

Com isso, o governo substituiu o diálogo pela repressão. O secretário de Segurança também afirmou que o governo está identificando, por meio de imagens, as mulheres e os parentes dos policiais que estão participando das manifestações. O objetivo é responsabilizar civilmente essas pessoas. A relação dos parentes que estão à frente do movimento será encaminhada para o Ministério Público Federal.

"Essas pessoas vão pagar os custos da mobilização das tropas federais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O recado está dado para os familiares. Não vão sair isentos desse processo", ameaçou Garcia.

Em nota divulgada no dia 7, o PCdoB do estado criticou a postura do governo. "Culpar os policiais e bombeiros militares pelo caos que se instalou e tentar fazer com que a população acredite nessa falácia é próprio de um governo autoritário, arrogante e truculento, que só reconhece nas forças militares estaduais o papel de uma espécie de “capitão do mato”, utilizado contra a população pobre, os movimentos populares e suas manifestações democráticas", diz um trecho da nota.

O secretário de Segurança Pública disse que as tropas das Forças Armadas e da Força Nacional não serão mobilizadas em um primeiro momento para retirar as mulheres que bloqueiam a entrada dos batalhões, mas não descartou essa possibilidade.

Desde segunda-feira (6), o patrulhamento no estado tem sido feito pelas Forças Armadas e pela Força Nacional. O Ministério da Defesa anunciou ontem (9) o reforço na segurança em todo o estado. O comandante da força-tarefa da Operação Capixaba, general Adilson Katibe, disse que, até o fim de semana, o número total de militares deve chegar a 3 mil homens. A força-tarefa conta atualmente com 1.783 homens, sendo 1 mil do Exército, 373 da Marinha, 110 da Força Aérea e 300 da Força Nacional.