Para Temer, quem reclama da reforma da Previdência "é quem ganha mais"

Em maio de 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que fez a reforma da Previdência para barrar os aposentados com menos de 50 anos que classificou como "vagabundos". Michel Temer resolveu seguir o exemplo e disse nesta terça-feira (7), ao defender o seu projeto de reforma da Previdência, que quem reclama das mudanças propostas pelo governo são as pessoas que ganham mais.

Por Dayane Santos

Michel Temer - Beto Barata/PR

"A reforma pode merecer ajustamento, e quem vai discutir isso é o Congresso Nacional, mas quem reclama é quem na verdade ganha mais", disse o ilegítimo para uma plateia de empresários, representantes do governo e de diferentes setores da sociedade civil que integram o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Em 1988, FHC disse que fez a reforma da Previdência "para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis".

Temer, por sua vez, afirma que a sua reforma "cerca de 65% dos trabalhadores brasileiros terão a aposentadoria integral porque ganham o salário mínimo".

"Lamento dizê-lo, mas o mínimo na Previdência é o salário mínimo. Então, quem eventualmente possa insurgir-se é um grupo de 27%, 37% (…) Quem reclama é na verdade quem ganha muito mais, muito acima desses tetos. Quem tem aposentadoria precoce, quem tem antes da Previdência geral", disse.

Com os índices cada vez mais altos de rejeição, por conta das medidas de arrocho, Temer tenta inverter os fatos e reverter a reprovação com propaganda publicitária. Utilizou recursos do orçamento do Ministério do Esporte para cobrir custos de R$ 19 milhões com campanhas publicitárias, sendo gastos a bagatela de R$ 7,5 milhões para peças de marketing sobre a reforma da Previdência.

Durante o evento, Temer afirmou ainda que a reforma é necessária e que é uma "inverdade absoluta" que as mudanças nas regras vão retirar direitos dos trabalhadores. A realidade é bem diferente do discurso de Temer. Rechaçada por todas as centrais sindicias, que representam os trabalhadores, a proposta do governo prevê, entre outras medidas, que o brasileiro precisará contribuir 49 anos para assegurar o recebimento de 100% de aposentadoria, obedecendo uma regra de transição que levará em conta a idade do contribuinte.

A regra determina ainda um tempo mínimo de contribuição de 25 anos. Com o cumprimento desse período, o trabalhador terá direito a 76% da aposentadoria.

Diante da rejeição crescente, Temer apelou pelo apoio à reforma. O desespero de Temer é porque a proposta encontra resistência entre parlamentares da base aliada, que já manifestaram dificuldadesem aprovar o texto como foi encaminhado ao Congresso. Ao estilo Temer, ele afirmou: "Quando se faz oposição à reforma, tem que ser dizer, 'tá bom, qual é a solução?'".