Secretário da Previdência 'tergiversa' sobre conflito de interesses
O secretário da Previdência do Ministério da Fazenda, Marcelo Caetano, negou nesta quinta-feira (9) acusação de conflito de interesses por ser, ao mesmo tempo, o homem incumbido de tocar a reforma da Previdência do governo Temer e conselheiro da Brasilprev, uma das maiores empresas de previdência privada do país.
Publicado 10/03/2017 16:09
Em vez de defender interesses privados junto ao governo, conforme denúncia protocolada no último dia 23 pela central sindical Pública na Comissão de Ética Pública da Presidência da República e no Ministério Público Federal (MPF), Marcelo afirma que, ao contrário, defende os interesses públicos dentro do Conselho de Administração.
O presidente da Pública, Nilton Paixão, classificou a alegação de Caetano como uma "resposta primária". Segundo ele, o secretário da Previdência "está tergiversando e criando uma inversão para fugir do enfrentamento de fundo." A Comissão de Ética Pública tem reunião prevista para o próximo dia 27, quando deve analisar a denúncia contra Caetano.
"Imagina um fiscal, um arrecadador de tributos de um estado qualquer, que passa a ser parte do conselho da empresa que vai fiscalizar e diz que vai defender o interesse público dentro da empresa?", ironiza o presidente.
Para o professor de Direito Previdenciário Daniel Pulino, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a reforma de Temer pretende ampliar mercado para as empresas de previdência privada porque, dentre outras medidas, permitirá a contratação de planos suplementares para os servidores em regime aberto.
Atualmente, as categorias profissionais do serviço público podem contratar planos suplementares em regime fechado, com a constituição de fundações destinadas a gerir esses fundos de previdência complementar, já que o teto garantido pelo INSS é inferior aos rendimentos de diversas categorias.
Segundo Pulino, que também é membro do conselho da Fundação de Previdência Complementar dos Servidores Públicos (Funpresp), sob a alegação de incrementar a concorrência no setor, essa mudança prevista na reforma da Previdência é nociva para os servidores. "A principal diferença é que as abertas atuam com fins lucrativos, prestam serviço de previdência para gerar lucro para os seus acionistas. As fechadas, não. Toda a rentabilidade reverte em benefícios para os trabalhadores", explica o professor, para quem não serão apenas os servidores os prejudicados com a reforma de Temer.
"É uma reforma bastante dura, não só para o servidor, mas para os demais trabalhadores, em especial os mais pobres, como trabalhadores rurais, deficientes e idosos." Segundo ele, o governo adota um horizonte de curto prazo, visando a reduzir despesas nos orçamento nos próximos dois anos, quando, na verdade, as mudanças no sistema previdenciário devem adotar perspectiva de longo prazo, de até 40 anos.