Gleisi: Não era só tirar a Dilma que a economia melhorava?
O resultado do PIB do ano passado foi uma forte queda de 3,6% de nossas riquezas, consolidada sete meses após o início do governo Michel Temer. Uma tragédia para a economia brasileira que, infelizmente, não para por aí.
Por Gleisi Hoffmann*
Publicado 13/03/2017 18:11
Na semana que passou o jornalista Fernando Rodrigues revelou que a equipe econômica tem em mãos números mostrando que, ao contrário do que tenta fazer crer o próprio governo, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá sofrer uma queda de até 1,1% neste ano. Ou seja, ao se confirmar o prognóstico oficial, o que com certeza ocorrerá, nosso país emplacará três anos seguidos de recessão.
Mas afinal, o que está acontecendo? Não era o pessoal desse governo que dizia que bastava tirar a presidenta Dilma que a economia iria melhorar porque resgataríamos as expectativas, as pessoas teriam fé no país novamente? Não era esse governo de Michel Temer e do ministro Henrique Meirelles que dizia que a confiança voltaria e tudo seria melhor? Não eram o PMDB e o PSDB que previam a retomada do crescimento econômico? Tirem a Dilma que a confiança vai voltar e a economia vai crescer. Quanta hipocrisia!
A economia está no fundo do poço e dela não sairá, a menos que se mude completamente a política econômica que está sendo implementada. A austeridade fiscal, acompanhada dessas reformas que desmontam o Estado de Bem Estar Social mínimo, que conquistamos a partir da Constituição de 1988 e com os governos de Dilma e Lula, implantadas por esse governo, levará o Brasil cada vez mais para baixo.
Nesse contexto, é preciso que se diga que nós, do PT, brigamos pouco contra a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda em 2015. Foram as medidas de ajuste dele, com os cortes nos investimentos, que deram combustível inicial para a crise. Quando Levy saiu e o ministro Nelson Barbosa assumiu, iniciamos uma recuperação, que foi interrompida com o processo de impeachment. Temer e Meirelles aprofundaram o “ajuste” que resultou na destruição da nossa economia.
Tanto foi assim, que na quebradeira geral do ano passado, não podemos esquecer de um detalhe: o PIB recuou 0,9% no quarto trimestre de 2016 em relação ao trimestre anterior. Foi o oitavo resultado negativo consecutivo nessa base de comparação. Pelo jeito, a tal confiança dos agentes econômicos não acompanhou o golpe.
E o que diz agora esse governo que começa a sentir a rejeição nas ruas? Que nós vamos ter crescimento de 2,4% no quarto trimestre de 2017, como diz Meirelles, e até mesmo uma leve recuperação já no primeiro trimestre, como falou o presidente na mídia deste final de semana. Será mesmo?
Alguém acredita que teremos crescimento com as medidas que Temer está tomando? Sexta-feira passada foi divulgado que o BNDES registrou lucro líquido de R$ 6,392 bilhões em 2016, uma alta de 3,1% em relação a 2015. Esse resultado não foi porque o banco deu mais empréstimos, mas porque ganhou aplicando o dinheiro parado. Isso mesmo. Ao emprestar menos do que nos últimos anos, o BNDES viu seu caixa engordar para R$ 129 bilhões no fim de 2016, mesmo após devolver R$ 100 bilhões em empréstimos ao Tesouro. É inacreditável!
No lugar de fortalecer o papel do BNDES como indutor do desenvolvimento, estão travando os financiamentos que poderiam ajudar na recuperação da indústria e de outros setores. Fazem o mesmo com o Banco do Brasil, que enfrenta agora um processo de “reestruturação” cujo ponto alto é o fechamento de centenas de agências espalhadas pelo país. Quem mais vai sofrer são os agricultores familiares.
Exemplos do desmonte não faltam. O mais preocupante deles, porém, ainda está em andamento. Além de tentar impor anos e anos a mais de trabalho aos brasileiros, o governo vai mexer profundamente com a economia dos pequenos municípios se conseguir aprovar a reforma da Previdência como deseja. O dinheiro da aposentadoria é de fundamental importância para muitas cidades do interior do Brasil. É esse recurso que movimenta o comércio e a vida das pessoas nesses locais.
Fazer a crueldade de aumentar para 65 anos a aposentadoria dos homens e das mulheres do campo, e agora também do urbano, e ainda desvincular do salário mínimo os benefícios sociais, provocará um forte impacto nas finanças desses municípios.
Quando estourou a crise financeira internacional, no final de 2008, o presidente Lula tomou uma série de medidas que impediram a derrocada no Brasil. Ele fez o BNDES cumprir seu papel, facilitou o crédito, esticou as parcelas do seguro desemprego e investiu mais em programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. O Banco Mundial, inclusive, recomendou no mês passado que o governo ampliasse o Bolsa Família para evitar o aumento da pobreza neste período de recessão. Lula dizia que dinheiro nas mãos dos pobres faz a economia girar. Ele estava certo. Mesmo com a descrença da velha elite, vencemos a “marolinha”.
É isso que o PT propõe de imediato para superarmos a atual crise. Mas o governo diz que sem o ajuste fiscal e as reformas o país vai quebrar. Diz também que a queda da inflação mostra que ele está no rumo certo. Só se esquece de lembrar que a inflação caiu porque a recessão travou o consumo das famílias e o investimento das empresas. A economia está no chão!
Há poucos dias o nosso presidente afirmou que seu governo está tomando medidas ousadas. Tão ousadas quanto seus conceitos a respeito do papel da mulher na sociedade. Quem sabe o PIB não dará um grande salto se colocarmos as mulheres para “indicar os desajustes de preço nos supermercados”.
Essa é a ousadia de Temer.
* Gleisi Hoffmann é senadora pelo PT do Paraná. Foi diretora financeira da Itaipu Binacional e ministra-chefe da Casa Civil