21 de março: Namíbia, finalmente livre e independente 

À meia-noite do dia 21 de Março de 1990, no Windhoek Sport Stadium, Samuel Daniel Shafiishuna, mais conhecido por Sam Nujoma, evocando o Artigo 30º da Constituição da República da Namíbia, perante o Secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar, representantes de 147 países, incluindo 20 Chefes de Estado e 30.000 espectadores que lotavam o estádio, prestou juramento como 1º presidente da República da Namíbia. 

Sam Nujoma Nelson Mandela

“Eu, Sam Nujoma, juro que me esforçarei ao máximo para apoiar, proteger e defender a Lei Suprema, a Constituição da República da Namíbia; Juro obedecer, executar e administrar fielmente as leis da República da Namíbia; Juro proteger a independência, a soberania, a integridade territorial e os recursos materiais e espirituais da República da Namíbia; E juro que me esforçarei ao máximo para garantir a justiça para todos os habitantes da República da Namíbia”, disse Nujoma, para delírio dos presentes.

Em seguida, proclamou a independência da Namíbia em um discurso carregado de emoção. A dada altura, ele disse: “Tenho o prazer de declarar que estamos aqui reunidos hoje, não para aprovar outra resolução, mas para celebrar o amanhecer de uma nova era nesta terra e proclamar ao mundo que uma nova estrela surgiu no continente africano. A última colónia de África está, a partir desta hora, livre… Em conclusão, declaro, em nome do nosso povo, que a Namíbia é para sempre livre, soberana e independente”.

Há precisamente 27 anos a Namíbia tornou-se finalmente independente, um país autodeterminado e soberano. Os povos daquele território enfrentaram 31 anos de ocupação germânica e 75 anos de domínio sul-africano. O domínio estrangeiro foi marcado pela violência e pela exploração, pela violação dos direitos humanos mais básicos e pela privação da liberdade individual.

O povo namibiano e a comunidade internacional responderam com uma luta digna pelo diálogo e o entendimento, que só foi entendida pelo regime do “apartheid” sul-africano e seus aliados ocidentais quando sofreram uma pesada derrota militar em Cuito Cuanavale, infligida pelos combatentes das forças armadas angolanas e voluntários cubanos.

O navegador português Diego Cão fora o primeiro europeu a pisar em solo namibiano, em 1486. Antes de sua chegada, a região era habitada pelo povo banto. Ingleses e alemães invadiram a região e submeteram os povos que habitavam nela.

A partir de 1884 os alemães passaram a controlar cada vez mais território. Em 1884, o chanceler do Império Otto von Bismarck declarou o sudoeste africano um "protetorado alemão".

Em 1893, a tribo dos witbooi nama recusou-se a assinar um "acordo de proteção" e foi atacada pelas forças alemãs. A partir daí, uma série de tribos se rebelaram contra a ocupação, sendo igualmente reprimidas de forma brutal. O maior levante foi o dos herero, que, ao serem derrotados, foram obrigados por decreto a abandonar o território, caso contrário seriam executados.

Dezenas de milhares de nativos foram forçados a fugir para as áridas regiões a leste da Namíbia e lá morreram de fome e sede. A repressão dos grupos étnicos locais pela Alemanha custou a vida de metade da população do território. Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha perdeu a Namíbia para a África do Sul, que em 1920 obteve da Liga das Nações um mandato sobre o território.

Com o fim da Liga das Nações, a África do Sul foi paulatinamente ampliando seu controle sobre a Namíbia, inclusive estendendo a esse país o regime de apartheid, sem o consentimento da ONU e sob protestos de várias nações da África. Em 1971, a Corte Internacional de Justiça declarou ilegal a presença sul-africana na Namíbia.

Guerrilha contra a ocupação

Tal decisão também foi ignorada pela África do Sul e a Organização dos Povos do Sudoeste da África (Swapo, na sigla em inglês), organização pró-independência liderada por Samuel Nujoma, iniciou a guerrilha contra a ocupação sul-africana. A luta pela independência eclodiu em 1966, com a guerrilha marxista da Swapo.

Somente em 1988, a África do Sul concordou em deixar a Namíbia, seguindo-se a independência dois anos mais tarde. Em novembro de 1989, foram realizadas as eleições parlamentares, supervisionadas pelas Nações Unidas. A Swapo obteve a maioria absoluta dos votos e Samuel Nujoma foi nomeado presidente.

Nujoma tomou posse em 21 de março de 1990, data que foi escolhida como dia oficial da independência namibiana.