Feira da Reforma Agrária: Alimento e cultura sob o signo da luta

O golpe de 2016 que levou Michel Temer a presidência do Brasil também foi um golpe na luta pelo direito à terra. Passados quase nove meses da posse, o Brasil vive em um cenário de retirada de direitos, como as propostas da Previdência Social e Trabalhista, e de corte expressivo de verbas na política da reforma agrária.

Por Railídia Carvalho

2ª Feira da reforma agrária do MST - Mídia Ninja

A avaliação é de integrantes do Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que promove desta quinta-feira (4) a domingo (7) a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária no parque da Água Branca, na cidade de São Paulo.

Golpe contra o direito à terra

O orçamento do governo federal para a reforma agrária e políticas ligadas aos trabalhadores rurais diminuiu para 800 milhões de reais neste ano. Segundo Milton Fornazieri, do setor de produção nacional do MST, de 2012 a 2013 o orçamento por ano foi de mais de um bilhão de reais e nos governos do ex-presidente Lula atingiu mais de 3 bilhões de reais ao ano.

O corte em políticas de crédito, comercialização, assentamento e o aprofundamento da criminalização aos movimentos sociais se aprofundaram no governo golpista de Michel Temer, segundo Débora Nunes, também do setor de produção do MST.

Em abril, quando se completou 21 anos do massacre de Eldorado de Carajás, nove trabalhadores sem-terra foram torturados e assassinados no Mato Grosso. Também em abril, em Minas Gerais, um integrante do MST foi assassinado com dez tiros. “A conjuntura política agrava os conflitos, reflete essa liberação da atuação das milícias, do latifúndio para intimidar a luta pela terra”, completou.
Feira

“Mas nós continuamos em um processo de resistência na luta pela terra e também em uma luta mais ampla com outros movimentos em defesa dos direitos”, afirmou Débora. A produção no campo é resultado dessa resistência, da luta e do trabalho de homens e mulheres do campo. Alimento saudável, arte e organização são algumas das dimensões apresentadas na 2ª Feira da Reforma Agrária do MST.

Sustentabilidade

Segundo Milton e Débora, o objetivo principal é compartilhar em São Paulo os produtos produzidos por assentados e acampados de todo o Brasil. A feira também traz o debate da importância da reforma agrária. Atualmente, são 130 mil famílias aguardando para serem assentadas.

São alimentos produzidos com pouco ou nenhum ingrediente tóxico ou químico. É a agroecologia adotada pela produção do MST, que expõe na capital paulista produtos in natura, artesanais e agro-industrializados. A feira deste ano é maior que a primeira quando passaram 150 mil pessoas pelo parque da Água Branca e 160 toneladas de alimentos foram trazidos.

A 2ª feira tem 280 toneladas de alimentos, 800 feirantes (em 2015 foram 600) e 20 expositores trazendo a diversidade da culinária brasileira. Ao todo participam da feira trabalhadores rurais de 23 estados mais o Distrito Federal. Débora lembrou que em 2015, os alimentos acabaram no sábado, um dia antes do fim da feira. Por esse motivo, foram trazidas 120 toneladas a mais. A expectativa também é de aumentar a visitação pública.

Políticas Públicas

Milton lembrou que o aspecto organizativo do MST também é destacado na 2ª Feira. São mais de mil associações e mais de 140 cooperativas de produção que organizam a vida nos acampamentos.

“É possível produzir em escala alimentos saudáveis. Somos (o MST) os maiores produtores de arroz agroecológico do país. Os desafios estão colocados mas o Estado prioriza o agronegócio”, disse Milton. A safra de arroz agroecológico de 2017 produziu 540 mil sacas.

Segundo Débora, o governo federal precisa fazer sua parte. “Queremos fazer esse debate com a sociedade. É preciso um reforço para esse tipo de produção, que até pouco tempo não tinha acesso ao Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)”, enfatizou.

Além da comercialização dos produtos, a feira terá rodas de conversa, seminários e shows, entre eles o sanfoneiro Targino Gondim, Tulipa Ruiz e Emicida, além da música tradicional do campo, como viola e catira, entre outras expressões. Os artistas do MST também terão seu espaço de apresentação na feira.

Programação

No sábado acontece o seminário “Alimentação Saudável – um direito de todos e todas” com as palestras da chef Bela Gil, da atriz Letícia Sabatela, o ex-ministro da saúde Alexandre Padilha, o ex-presidente do Uruguai, José Pepe Mujica e o coordenador do MST, João Pedro Stédile.

Os seminários, shows e rodas de conversa são gratuitos. Para comprar os alimentos, o visitante da feira pode usar cartões mas nem todos os feirantes possuem a máquina. O MST também organizou a Ciranda Infantil, que vai acolher com atividades diversas os filhos dos trabalhadores que vieram participar da feira.

Clique AQUI e conheça a programação da 2ª Feira