Nem tudo são dólares no front externo

 Como foi amplamente divulgado pela imprensa nos últimos dias, o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre deste ano resultou fundamentalmente do excepcional desempenho do setor agrícola, puxado pela demanda externa e empurrado por condições climáticas favoráveis. Porém, depois de acendermos uma vela a São Pedro e outra ao apetite dos gringos, vale atentar para alguns problemas que a dinâmica de nosso comércio exterior ainda revela.

Por Marcelo P. F. Manzano

comércio exterior

Em primeiro lugar, de acordo com os números apresentados na tabela abaixo, a despeito de um aumento significativo de 19,61% de nossas exportações totais no ano de 2017, houve uma queda de 3,83% das exportações de bens de capital, puxada por sua vez pela expressiva queda das exportações deste tipo de bens quando excetuados os equipamentos de transporte industrial (-17,93%).

Como esse movimento foi também acompanhado por uma reversão das exportações de manufaturados no mês de maio – que caíram 1,2% em relação ao mesmo mês de 2016 (veja aqui) – esse é mais um sinal da preocupante tendência de reprimarização de nossa pauta exportadora.

Em segundo lugar, um outro indicador negativo foi a queda expressiva das importações de bens de capital nestes primeiros cinco meses de 2017. Na comparação com o mesmo período de 2016, registra-se uma redução de 18,58%, o que revela a grave depressão dos investimentos produtivos no país.

Em síntese, mesmo quando olhamos para o único motor do PIB que ainda empurra a economia para cima – o comércio exterior -, percebe-se que o estratégico segmento dos bens de capital não apenas perde espaço nas nossas exportações, como a elevada queda das importações desse tipo de bem denota um quadro de perspectivas ainda bastante pessimistas do setor industrial brasileiro.