Eneida Guimarães: Lembrando Paulo Fonteles em dia de luta no Pará

Paulo Fonteles formado na trajetória de lutas e conquistas da população brasileira desde sua juventude na defesa da UNE. Antes de tudo, um destemido lutador pelo Brasil – país que desejou vir a ser uma Nação forte e soberana – livre da opressão imperialista. Sua voz faz ecos ainda hoje, repercute por esse país a fora.

Paulo Fonteles, combatente pela Democracia e pela Reforma Agrária teve imensa capacidade de envolver as pessoas, cativar a todos que o conheciam. Ele compreendia a imensa tarefa assumida por pessoas que queriam e querem o melhor para o país – e era necessário alargar o exército de lutadores do povo no caminho revolucionário. Assim, combatia o capitalismo e propagava o socialismo; tratava do tema com a maior propriedade – um feroz estudioso de pautas pelo progresso e transformação social. Paulo era ciente da necessidade de ganhar mentes e corações.

Quantas vezes os camponeses das matas paraenses ficaram horas sentados ouvindo suas exposições de conteúdo marxista – tantos foram os cursos que ele organizou pelo sul e sudeste do Pará. Outras seções falava do seu partido e propagava suas bandeiras. Mas, mais do que isso, organizava os filhos do povo para abraçarem as fileiras do PCdoB, como fez com João Canuto e tantos outros lutadores.

Tenho enorme satisfação de ter convivido com esse comunista. Não somente por ter votado nele e ter conquistado votos que ajudaram a consagrá-lo deputado estadual na ALEPA, quando da minha volta da vida clandestina, ao inaugurar minha participação na primeira eleição no momento que se restabelecia a frágil democracia no país. Era o ano de 1982.

Lembro bem do seu esforço e como se colocou para retomar sua presença na direção da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos SPDDH. Ele que foi um dos seus fundadores nos idos de 1970, e seu primeiro presidente. Esse é um capítulo que precisa ser melhor contado. Enquanto as esquerdas que atuam na direção por mudanças não compreenderem a necessidade de construir a unidade de ação – todos saem perdendo. Mas, Fonteles sempre de cabeça erguida somava por onde passava.

Paulo Fonteles que com seu Partido organizou no Pará o movimento das Diretas, ao mesmo tempo em que viajava aos municípios junto com outros militantes, colhendo assinaturas para conquistarmos a legalidade do Partido Comunista do Brasil – o PCdoB. Conseguimos em 1985. Tamanha foi a alegria de Paulo Fonteles – precisava gritar o resultado desta conquista em todos os cantos do Pará e do mundo.

Paulo Fonteles que encarou o debate da Constituinte, e naquele momento desejando a visibilidade como político comunista, conhecido que já era como defensor da bandeira socialista. Aqui existiu um conflito: assumir a legenda comunista ou continuar na ala progressista no PMDB, no qual ele havia sido eleito deputado. Não se conformava com o caminho adotado, mas como homem de partido cumpriu o que se aprovou. Paulo foi aquele que sempre quis mais da vida e para a vida. Não se elegeu constituinte e os matadores de aluguel a mando da UDR tiraram sua vida.

Eu estava na manhã do dia 11 de junho de 1987 dentro de um coletivo quando ouvi a voz de um locutor de uma emissora de rádio noticiando a execução de Paulo Fonteles. O corpo tombado dentro do carro quando se encontrava em viagem para atender um cliente entre tantos processos que defendia.

Belém entrou em comoção! Os matadores de aluguel cumpriram o mandado em troca de alguns reais, e causaram grande mal a Nação.

Até hoje, ouço ainda sua voz destemida entremeada entre sorrisos de esperança:

"O importante é a luta do povo. Tiram minha vida, não minhas ideias".