O analfabetismo prospera com o declínio da escola, afirma especialista
A crise econômica e política no Brasil, que não parece ter data para acabar, vem afetando não apenas as taxas de emprego, a saúde e a segurança. A qualidade do ensino no país também vem sofrendo consequências. Especialistas na área de educação apontam que o quadro de anomia que vive o país pode ter impacto inclusive nos índices de analfabetismo.
Publicado 26/06/2017 10:11
“O analfabetismo prospera com o declínio da escola“, afirmou a professora da faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), Célia Linhares.
“A escola é uma das instituições mais importantes para o desenvolvimento de um país. No quadro político atual, o que temos visto é uma situação que se deteriora cada vez mais, e se torna angustiante, com professores mal remunerados, crianças que não podem ir para a escola por um motivo ou por outro e pais que, por causa do desemprego, mudam de um lugar para outro”. De acordo com ela, dificuldades familiares como essas prejudicam a frequência escolar da criança, tornando o aprendizado mais difícil.
Falta de investimento na educação é criticada por especialistas
Também da faculdade de Educação da UFF, Zoia Prestes ressaltou que faltam políticas públicas direcionadas para enfrentar o analfabetismo no país. “Tinha que haver projetos em conjunto com as universidades, com programas de alfabetização feitos pelos próprios cursos”, opinou.
O analfabetismo já é uma chaga antiga no Brasil. Em 2013, quando o país ainda não estava em uma severa crise econômica, os números apresentavam uma alta pela primeira vez em 15 anos, com um aumento de aproximadamente 300 mil analfabetos entre 2011 e 2012, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), divulgada pelo IBGE na época.
O Pnad de 2015 demonstrava que a taxa de analfabetismo de pessoas de 10 a 14 anos de idade era de 1,6%, a taxa de analfabetismo das pessoas de 10 anos ou mais de idade era de 7,4%, e a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade era de 8%.
Em um país no qual quase um quarto da população (45,9 milhões) é de pessoas entre 0 a 14 anos, a valorização da escola é fundamental, como afirma Célia. “O aumento da evasão escolar contribui para o aumento do tráfico e da criminalidade. Se você não vai para a escola, qual o caminho que você vai seguir?”, reitera a professora.
Célia Linhares conclui: “Como dizia Victor Hugo, abrir uma escola é fechar uma prisão. Como essa afirmação é atual no Brasil em que vivemos, no qual vemos crises de todos os tipos?”
Analfabetismo vinha diminuindo
A taxa de analfabetismo entre brasileiros com 15 anos ou mais em 2014 foi estimada em 8,3% (13,2 milhões de pessoas), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2014, ele ficou em 8,3%; em 2013, a taxa era de 8,5% e, em 2012, era de 8,7%.
De acordo com a Pnad, a taxa de analfabetismo vinha diminuindo ao longo dos últimos anos no país. Entre 2001 e 2014, os pesquisadores observaram uma redução de 4,3 pontos percentuais, o que corresponde a uma redução de 2,5 milhões de analfabetos.