Após denúncia, debandada na base aliada agrava crise do governo

Uma das características que revelam que o governo perdeu sua força é quando o debate de bastidores se torna público, evidenciando que as divergências são maiores que as convergências. É nessa situação que se encontra o governo de Michel Temer.

Fracassa tentativa de Temer de abafar crise entre os poderes

Os principais aliados de Temer não escondem mais o racha em torno do apoio ao governo. No PMDB a crise entre os que já apoiavam o governo atinge temperaturas altas. No PSDB, as lideranças já não escondem incômodo com a decisão da cúpula de permanecer no governo. Encurralado, Temer tenta garantir a aprovação da reforma trabalhista no Senado, em meio a uma debandada de parlamentares.

Nesta quarta-feira (28), o senador Renan Calheiros (AL) deve entregar o cargo de líder do PMDB. A movimentação em direção ao rompimento definitivo com Temer foi selado em discurso feito durante sessão plenária do Senado, na terça (27), em que o senador lagoano disse que Temer não tem mais condições de governar.

“Temer não tem confiança da sociedade para fazer essa reforma trabalhista na calada da noite. Num momento em que o Ministério Público, certo ou errado, apresenta denúncia, não há como fazer uma reforma que pune a população”, disse.

De acordo com fontes, Renan avalia que não tem condições de permanecer na liderança da legenda diante da sua posição contra o governo e a agenda de reformas. Especula-se que o anúncio de sua saída será feito às 16 horas durante sessão do plenário.

Renan defendeu que Temer deixe de adiar uma decisão sobre o futuro do governo e pediu a renúncia. “Demorar mais um mês, dois meses, um ano a frente do governo não vai mudar nada. É uma resistência para o nada”, disse em discurso feito em plenário, defendendo a realização de eleições diretas.

Tucanos fora

Enquanto isso, no ninho tucano, as declarações de que a legenda deve pular fora aumentaram. O deputado federal Daniel Coelho (PSDB-PE) afirmou que a permanência da sigla no governo Temer, ao invés de ajudar, tem prejudicado o país, porque prolonga a crise de um governo que já acabou. O parlamentar vê no governo “uma fábrica de crise” e “quanto mais tempo ele existir, mais crises aparecerão”.

“A presença do PSDB no governo faz muito mal ao país, porque alonga uma crise que na minha opinião não tem como acabar. Não vejo como esse governo se recuperar, readquirir credibilidade e força política para tocar matérias importantes. Quanto antes acabar essa crise, melhor”, disse o tucano em entrevista à rádio CBN.

“Quanto mais tempo durar o governo, mais escândalos virão. A tendência é que cada dia seja pior do que o outro. Então, o que o partido está fazendo num ambiente como este?”, questionou.

O deputado se refere à denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentada na segunda-feira (26) contra Temer por corrupção passiva, com base nas delações feitas pelo empresário da JBS Joesley Batista.

Daniel Coelho disse que o PSDB está “evidentemente dividido” tanto quanto a deixar o governo, quanto nos votos para acatar a denúncia da procurador.

“Eu acho os argumentos apresentados pelo próprio presidente Temer e por aqueles que defendem enterrar essa denúncia [da PGR] muito frágeis. E dentro do PSDB eles ficam mais frágeis ainda porque o partido foi muito duro na cobrança da corrupção e dos erros cometidos na época do governo Dilma e fica inexplicável agora você não deixar que a investigação contra Temer prossiga”, destacou.