Macron é acusado de volta a monarquia

Ao abordar ambas as casas do parlamento na antiga sede do rei francês, Versalhes, o presidente francês discursou para senadores e deputados numa cerimónia boicotada pelas bancadas do Partido Comunista Frances (PCF) e da França Insumbissa, que organizou um comício no centro de Paris.

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Num discurso de uma hora e meia convocado com pompa e solenidade, o presidente francês dirigiu-se a 900 deputados e senadores, um dia antes do discurso do primeiro-ministro, para repetir algumas das ideias fortes da sua campanha eleitoral, como a da reforma institucional e a redução do número de parlamentares das duas câmaras a um terço do número atual. Sem especificar, Emmanuel Macron prometeu ainda mudar o sistema eleitoral para introduzir "uma dose" de representatividade. E deixou claro que caso o parlamento não aprove essas reformas, poderá submetê-las a referendo.

Macron falou ainda da manutenção do estado de exceção que vigora no país, que limita os direitos e liberdades cidadãs, prevendo que termine no outono. No entanto, o governo prepara-se para inscrever boa parte das restrições vigentes no código penal francês, tornando-as assim permanentes.

O discurso do presidente acabou por ser criticado à esquerda e à direita por ter sido vazio e entediante – “falou de tudo menos o que interessa aos franceses” disse o deputado socialista Olivier Faure. Foi “longo e às vezes um tanto eloquente”, resumiu Philippe Gosselin, dos Republicanos, ambos citados pelo Libération. Ao longo de uma hora e meia, apenas duas vezes se ouviram aplausos dos parlamentares da maioria presidencial.

Esta terça-feira, os deputados voltam a reunir-se para ouvir o discurso do primeiro-ministro Edouard Philippe na Assembleia Nacional, do qual se espera a concretização das medidas que estão na agenda presidencial.

Mélenchon: "Não é sectarismo nos recusarmos a reverenciar o príncipe”

À esquerda, a iniciativa de Macron de inaugurar estas mensagens presidenciais anuais ao estilo do "Estado da Nação" foi recebida com críticas de "volta monárquica". “A ordem republicana obrigaria que primeiro falasse com o primeiro-ministro, depois que a Assembleia vote, e depois, se fosse absolutamente necessário, o chefe de Estado diria sua visão, afirmou o ex-candidato presidencial e atual deputado da França Insubmissa num comício realizado no centro de Paris pouco depois do discurso de Macron.

“Não, não é sectarismo recusarmo-nos a reverenciar o príncipe”, afirmou Mélenchon, justificando o boicote à cerimónia de Versalhes pela sua “excepcional gravidade”. O líder da França Insubmissa disse ainda que os números da abstenção enviaram "uma mensagem política clara: Fora daqui!"

Uma delas é a reforma do Código do trabalho, com medidas para reduzir as remunerações, facilitar demissões adotando reformas tributárias e trabalhistas pró-empresariado que tornam ainda mais precárias as relações trabalhistas. A proposta para que o governo legisle por decreto vai ser votado no dia 12 de julho. É nesse dia que “voltaremos a encontrar-nos na rua”, prometeu Mélenchon, lembrando que “a grande revolução de 1789 também começou a 12 de julho”.