Fabiano dos Santos Piúba: Dias melhores virão?

“As coisas podem parecer uma simples dualidade ou demarcação de lugares e posições. Ocorre que o mundo é feito dos signos e significados, dos sentidos e sentimentos que atribuímos a ele – o mundo – e à nossa relação com o outro”.

Por *Fabiano dos Santos Piúba

Se não expressasse as imagens de pensamento que vão atravessar este texto, seria capaz de sair escrevendo-as pelos muros do País: Parte dos brasileiros tem se mostrado tolerante com o ódio e intolerante com o amor. Tolerante com a homofobia e misoginia e intolerante com diversidade e identidade de gêneros. Tolerante com a violência cotidiana sofrida por mulheres e intolerante com o feminismo. Tolerante com o racismo e intolerante com a diversidade étnica. Tolerante com a canastrice preconceituosa de pregadores e intolerante com terreiros de umbanda e comunidades remanescentes de quilombos.

Tolerante com arruaças de “filhinhos de papai” que queimam índios e mendigos e intolerante com rolezinhos e saraus organizados por jovens das periferias. Tolerante com chacinas que vitimam jovens dos subúrbios e intolerante com assaltos nos semáforos sofridos por jovens em seus carros importados. Tolerante com violências e assassinatos contra travestis e intolerante com suas presenças na cena das cidades.

Tolerante com infrações de trânsito e intolerante com faixas de pedestres e ciclofaixas. Tolerante com desmatamento das florestas e parques urbanos e intolerante com ecologistas. Tolerante com massacre aos povos indígenas e intolerante com seus direitos originários sobre suas terras e crenças. Tolerante com agrotóxicos dos agropecuaristas e intolerante com o cultivo orgânico da agricultura familiar.

Tolerante com trabalho escravo e intolerante com direitos trabalhistas. Tolerante com torturadores da Ditadura Militar e intolerante com a Comissão Nacional da Verdade. Tolerante com o homofóbico e misógino Bolsonaro e intolerante com o gay e deputado Jean Wyllys. Tolerante com corrupção do Temer e intolerante com pedaladas da Dilma. Tolerante com corrupção de determinados partidos e intolerante com corrupção de um partido em particular. Tolerante com o desmonte da Constituição Federal de 1988 e intolerante com a democracia. Tolerante com os ataques aos direitos sociais e intolerante com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

Ditas assim, as coisas podem parecer uma simples dualidade ou demarcação de lugares e posições. Ocorre que o mundo é feito dos signos e significados, dos sentidos e sentimentos que atribuímos a ele – o mundo – e à nossa relação com o outro. Se essa relação se constrói no embate, ela também se faz com o diálogo.

*Fabiano dos Santos Piúba é historiador; mestre em História e doutor em Educação; secretário da Cultura do Estado do Ceará


Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.