Temer faz propaganda enganosa:deflação é perda de vitalidade econômica

Em junho, o Brasil registrou a primeira deflação mensal em 11 anos. A redução dos preços, contudo, não deve ser comemorada, pois tem uma causa perversa – é resultado da depressão da economia. “É um indício de que as coisas vão mal, diferentemente da propaganda enganosa do governo”, diz o economista Guilherme Delgado.

Guilherme Delgado

Uma deflação ocorre quando preços de produtos e serviços caem em certo período, ou seja, trata-se do oposto da inflação. O resultado indica queda no consumo, é consequência da crise e dos altos índices de desemprego. A redução dos preços nesse momento, portanto, não deve ser saudada como algo positivo.

“Deflação, numa situação como esta, é sinônimo de depressão. O governo comemora um absurdo. Não há como comemorar deflação em uma situação de queda contínua da atividade por três anos seguidos – 2015, 2016 e 2017 –, sendo que, em 2014, o crescimento foi de 0,1% em termos reais. Não há o que se comemorar com o nível de desemprego em 13,4% com perspectiva de terminar o ano em 14%”, diz Delgado.

Ele criticou o fato de o governo tentar passar a ideia de que a queda nos preços ocorre porque a política econômica está dando certo. “A política monetária tem provocado mais recessão e, com isso, a atividade econômica se contrai profundamente e, evidentemente, os preços vão lá pra baixo. Isso não é terapia que se planeje ou se arrogue como resultado de política macroeconômica”, condenou.

Na sua avaliação, para aqueles que têm empregos estáveis e ganham bem, a deflação pode soar como algo positivo, mas, para o conjunto da sociedade, trata-se de algo extremamente ruim. “Os preços caem, mas o trabalhador perde o emprego, perde renda, por falta de atividade econômica. Para o conjunto da sociedade, a deflação é ruim, porque a ela está associada à depressão econômica – é uma economia que já não mostra sinais de recuperação fácil”, disse.

Guilherme Delgado defendeu que sua análise não tem a ver com ser de esquerda ou direita. Para ele, “qualquer economista responsável” apontaria que o problema fundamental da economia, hoje, é a paralisia da atividade econômica e o desemprego. “Toda outra conversa que se ponha no lugar é subterfúgio para passar à opinião pública falsas questões e, em cima delas, justificar o rentismo, a apropriação financeira exacerbada. Não tem sentido pensar que deflação vai ajudar. Vai piorar, porque isso é aprofundar a recessão. Deflação é sinônimo de queda significativa e continuada da atividade”, reiterou.

Ele aproveitou para criticar a atuação do Banco Central brasileiro, que adota como missão o controle da inflação, em detrimento do emprego. “Qualquer Banco Central responsável no mundo trata das duas coisas. O daqui não quer nem saber do nível de emprego, isso não faz nem parte das contas que tem que prestar à população. Aí temos uma parte do repertório dessa situação”, indicou.

Para ilustrar o que significa a deflação, o economista fez um paralelo: “É como se você estivesse colocando um termômetro num paciente que está com febre alta e, de repente, ele fica frio, com temperatura abaixo de zero. Isso é bom? Não, é sinal de perda de vitalidade. Deflação nesse momento significa perda de vitalidade da economia”.

Para ele, o correto seria o governo agir para reverter a situação. Delgado, contudo, não vê no horizonte esse caminho. “Esse governo só está pensando em se salvar a qualquer custo. Um governo responsável estaria pensando em políticas de reativação da atividade econômica, gasto macroeconômico para retomar atividades que estão deprimidas, seja por falta de investimentos, de consumo ou exportação. Um governo sério estaria preocupado com esse tipo de questão e não em fazer mais deflação e anunciar metas de inflação mais baixas”, encerrou.