Helemozão mostra o jovem negro de Salvador sem sangue

A fotógrafa baiana clica a juventude negra viva, "não sendo apenas registrada para documento criminal".

Por Débora Lopes 

Foto de Helemozão

A soteropolitana Helen Salomão, 22, que atende pela alcunha Helemozão, havia traçado seu destino profissional: queria ser advogada. Chegou até a ser jovem aprendiz de um fórum. Foi lá que, meio por acaso, apostou suas economias numa câmera semi-profissional que um colega estava vendendo. Hoje, cinco depois de se dedicar inteiramente à fotografia, ela aplica seus conhecimentos em retratos de jovens negros da Bahia, sua terra natal, sempre brincando com uma paleta de cor muito específica, pastel, terrosa. "Preciso falar das histórias que sei, mostrar a periferia sem sangue, o preto não sendo apenas registrado para documento criminal, mas sendo a arte, a moda, a tendência, a capa da revista", pontua.

Foi na época do curso pré-vestibular que a própria negritude passou a ganhar mais importância. "Comecei a discutir coisas nunca antes discutidas na escola, comecei a entender quem eu era, qual papel eu ocupava na sociedade e de como o racismo é estrutural nas nossas vidas." Hoje, longe dos tribunais, a história escrita em imagens por Helemozão, que também é poetisa, traz cores claras, luz natural e minimalismo. Mas não é apenas fotografia. Ela prefere chamar de "fotopoesia".

"Quero sempre mostrar a poesia do corpo e do espaço. Meus projetos fotográficos autorais sempre nascem de alguma poesia minha."

A inexorável vontade de retratar a juventude negra surgiu quando foi aluna de um curso de fotografia gratuito para jovens de comunidade. "Comecei a falar de nós, negros, nossas particularidades, espaços, desejos, liberdade, vivências", relembra.