Frente Brasil Popular: Plenária nacional busca ampliar forças 

Nos dias 18 e 19 de julho o coletivo nacional da Frente Brasil Popular (FBP) se reúne em São Paulo para aprofundar o debate sobre a crise brasileira, Diretas Já e os fatos recentes: Tramitação na Câmara da denúncia contra o presidente Michel Temer, a condenação do ex-presidente Lula na Lava Jato e a sanção da Lei 13.467/2017 que alterou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desequilibrando em favor dos empresários a relação trabalhista no país.

Por Railidia Carvalho

manifestação - Foto: Ísis Medeiros/Frente Brasil Popular

A expectativa para a plenária nacional é que se concretize a convocação da 2ª Conferência Nacional da FBP e de um Congresso do Povo para 2018. Estarão presentes em São Paulo representantes dos 27 estados brasileiros e pelo menos dois representantes de cada entidade que integra a frente. Atualmente quase cem entidades fazem parte da FBP.

O Portal Vermelho entrevistou nesta quinta-feira (13), Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB e integrante da Frente Brasil Popular, que reafirmou a importância do fortalecimento da Frente como um instrumento de resistência à nova ordem que se estabeleceu pós-golpe.

Ao mesmo tempo em que buscam fortalecer a existência da Frente, os movimentos sociais e sindicais mantém a agenda de protestos no país em defesa da democracia. Para o dia 20 de julho está programado o Dia Nacional de Mobilização contra a condenação sem provas do ex-presidente Lula e em defesa do estado de direito e da democracia.

Nova ordem autoritária, liberal e neocolonial

Na opinião de Walter (foto), o Brasil vive hoje uma nova ordem política, econômica e social que desfaz as conquistas da Constituição de 1988. “Os agentes do golpe se aproveitaram da crise política e econômica e nas condições criadas por eles implementaram rapidamente essa ordem no país”.

“Uma ordem liberal, autoritária e neocolonial, ou seja, aumenta o grau de dependência do país”, concluiu Walter. Criada em 2015 para denunciar o golpe em curso, a FBP tenta dar um salto na própria organização para criar musculatura para enfrentar esse retrocesso.

A nova conjuntura adversa traz uma nova CLT. “A sanção da reforma trabalhista foi um crime contra os trabalhadores. E acho que uma das bandeiras da Frente deverá ser reunir forças para a revogação dessas medidas, aprovadas na calada da noite sem discussão com os trabalhadores e a sociedade”.

Walter também comentou a condenação do ex-presidente Lula a 9 anos e seis meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro. “Estamos diante de uma ameaça democrática de grandes proporções no Brasil. É uma ordem autoritária”.

Segundo o dirigente, “a condenação de Lula atinge em cheio a noção de Estado de direito, que é o coração da democracia. Viola os direitos de defesa e exigência de prova para ser condenado. Até respeito a gente tem que exigir da justiça hoje. (a justiça)Faz delação premiada, tortura para dar o que o procurador quer”.

Ofensiva da direita segue curso

“Mesmo no meio da confusão, procuramos resistir mas as nossas forças não tem sido suficientes. É preciso conseguirmos ganhar a maioria silenciosa da sociedade para defender seus próprios interesses e juntar mais forças. Ter amplitude”, defendeu Walter.

Na opinião dele, é preciso reconhecer que a correlação de forças continua mantendo a esquerda na defensiva. “Apesar de todas as crises a ofensiva é deles. Do nosso lado, é preciso reconhecer os erros cometidos nesses treze anos para retomar a relação de confiança com essa maioria silenciosa”.

Walter avalia também que em 2016 e nos primeiros meses deste ano a FBP deu mostras de que é possível se consolidar uma frente ampla que acolha forças democráticas além dos movimentos de esquerda.

Ele citou a Frente Ampla de movimentos, a Frente Ampla Nacional e a Frente suprapartidária em defesa das Diretas Já. “As bandeiras se tornaram mais unitárias em torno do Fora Temer, Diretas Já e contra as reformas”, relembrou.

Frente Ampla

“Vimos se somarem a esse movimento da Frente Ampla nacional em defesa das Diretas a CNBB e outros setores do comando religioso do pais como evangélicos, presbiterianos, setores da OAB, artistas, intelectuais”, enumerou Walter.

Ele emendou: “Essa amplitude nos permitiu realizar as mobilizações do início do ano que culminaram com o êxito da greve de 28 de abril. Não conseguiríamos fazer a greve sem o fórum das centrais e a maioria delas não faz parte da Frente mas conseguimos trazer”, exemplificou.

Walter destacou que a criação da Frente Suprapartidária em defesa das diretas contou em sua constituição com setores dissidentes do governo Temer.

“São segmentos que tinham votado no impeachment e que vão se descolando como vários senadores do PSB. Roberto Requião e outras pessoas do PMDB se somaram nessa questão”, observou.

Mobilização popular

De acordo com Walter, os desafios da Frente são para ampliar as formas de mobilização para atingir essa maioria da população que ainda não se agregou aos atos e também combater o ceticismo que existe na sociedade em relação à política.

“Esses segmentos não estão de acordo com Temer, não estão de acordo com as reformas. Querem Diretas Já. Todas as pesquisas mostram isso. No entanto, ela não acredita que a sua mobilização é o fato capaz de conquistar isso. É o que eu chamo de desalento”, analisou.

O dirigente ressaltou que esse comportamento da população “revela que nós temos um inimigo poderosíssimo que é invisível que é a anti-política, a negação da política, o ódio à política, a maioria não se vê representada na política”.

Agenda para superar a crise

Walter reforçou a necessidade de ampla união de forças para superar a crise brasileira. Na opinião dele, é preciso somar e não dividir. “Só a esquerda política e social não dá saídas para a crise brasileira”.

“Esse entendimento não pode estar subordinado a nomes de candidatos porque isso divide isso não soma. Não é hora de nomes, é hora de uma agenda para o país. É preciso mostrar concretamente ao povo como enfrentar a crise”, defendeu.

Ainda de acordo com Walter, a amplitude vai resultar no isolamento do núcleo que deu o golpe. “Na discussão da agenda para o país cabe a maioria do povo brasileiro. É preciso isolar a Globo, a Lava Jato, o governo golpista. Temos que isolar essa gente e salvar o país que está sangrando”.

Desafios da plenária

Definir bandeiras unitárias será o grande desafio da plenária nacional da Frente Brasil Popular. Walter está otimista.

“Quando colocamos o desafio a gente superou. Criamos um programa popular de emergência. Novos desafios também podem ser superados”, declarou.

É trabalhoso (construir a unidade) mas é uma experiência formidável. Aí entra a vontade política para construir. Essa vontade nós da Frente temos e isso é um fator primordial da luta”, finalizou Walter.

SERVIÇO

Reunião do Coletivo Nacional da Frente Brasil Popular
Dias 18 (às 9h) e 19 de julho (até o 12h)
Local: Centro de Formação da Sagrada Família (Rua Padre Marchetti 237 – Ipiranga
Informações hospedagem e alimentação Centro Sagrada Familia (11) 2271 0070