Pensando sobre a desigualdade

Começo a pensar que ler Pierre Bourdieu pode ajudar a entender a era Trump, e a forma desigual como as pessoas se comportam. Bourdieu nasceu em 1930, filho de um carteiro de uma pequena cidade. Quando ele morreu em 2002, ele se tornou talvez um dos sociólogos mais influentes do mundo tanto na academia como fora dela.

Por David Brooke

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Meu tema de estudo foi a luta pelo poder na sociedade, especialmente o poder cultural e social. Todos nós possuímos, argumentou ele, algumas formas de capital social. Uma pessoa pode ter-capital acadêmico, capital lingüístico (facilidade com as palavras), capital cultural (saber cozinhar, fazer música, etc) ou capital simbólico (prêmios ou marcas de prestígio). Estas são as formas de riqueza que você traz para o mercado social.

 
Além disso, todos nós vivemos e possuímos o que Bourdieu chamou de habitus. O habitus é um corpo de conhecimento consciente e tácito de como andar pelo mundo, que dá origem a maneirismos, gostos, opiniões e estilo de conversação. O habitus é uma sensação intuitiva para o “jogo social”. É o tipo de coisa que você se sabe inconscientemente, por crescer em uma família e através da partilha de uma sensibilidade com um grupo de amigos.
 
Todos os dias, Bourdieu argumenta, nós usamos nosso capital social e nosso habitus para competir no mercado simbólico. Nós temos como indivíduos ou membros da nossa classe de prestigio e distinção– o poder de definir o que é certo, “natural”, “melhor”
 
O mercado simbólico é como o mercado comercial, são bilhões de propostas para distinção, prestígio, atenção e superioridade
Todo minuto ou hora, de certa forma sem nós mesmos estarmos conscientes, nós como indivíduos ou membros da nossa classe estamos competindo por dominância e respeito. Nós procuramos derrubar aqueles que estão em posição mais alta e diminuir os que estão abaixo. Ou, procuramos usar uma forma de capital social, por exemplo, a capacidade linguística e convertê-la em outro tipo de capital, um bom trabalho.
 
 
A maioria dos grupos esconde seu poder sob um véu de pureza intelectual ou estética. Bourdieu usou a frase "violência simbólica" para sugerir quão cruel essa competição é, e ele nem mesmo viveu tempo suficiente para conhecer o Twitter e outras mídias sociais.
Diferentes grupos e indivíduos usam diferentes estratégias sociais dependendo de sua classe. As pessoas no topo, observou, tendem a adotar um estilo pessoal reservado e discreto que mostra que estão muito acima das "estratégias assertivas e de busca de atenção". Pessoas com menos recursos, por outro lado, não tem muitas realizações para se gabar, mas eles podem usar de sarcasmo para demonstrar a sensibilidade superior.
 
Bourdieu ajuda você a entender que Donald Trump não é um grande político, mas ele é um gênio na guerra simbólica que Bourdieu descreveu. Ele é um gênio que rege as regras sociais e as hierarquias que as classes estabeleceram e usaram para manter o domínio.
 
Primeiramente, Trump tem o capital propriamente dito, em segundo lugar, por ser de uma classe alta (que é mais prestigiada até por pessoas de menor renda), ele sabe como se portar e atrair a atenção para si, além disso tem prêmios e fama por ser um executivo de sucesso.
Bourdieu não argumentou que a desigualdade cultural cria desigualdades econômicas, mas que ela as amplia e legitima.
 
Á medida que a economia da informação evoluiu, o capital cultural e o capital econômico se tornaram cada vez mais interligados. Indivíduos e classes sociais que são boas para vencer as competições culturais descritas por Bourdieu tendem a dominar os lugares onde há mais oportunidades econômicas; Eles tendem a crescer financeiramente.
 
Além disso, Bourdieu nos lembra que o impulso para criar as desigualdades é um pecado social endêmico. Toda hora, a maioria de nós, inconscientemente ou não, tenta ganhar pontos de status, afirmação cultural, desenvolver nossos gostos, promover nossos estilos de vida e subir de classe social. Todos essas pequenas ações fazem com que aumente a desigualdade geográfica e economicamente.
Bourdieu radicaliza, amplia e aprofunda a visão de desigualdade. Seu trabalho sugere que as respostas a terão que ser mais profundas, tanto a nível pessoal – as pessoas resistirem a aspectos competitivos, egoistas das redes sociais e exibição – e o comportamento nacional.