Unila Resiste: Luta contra desmonte da universidade continua

“Fechar a Unila, seja qual for o pretexto, não é apenas um crime contra a jovem intelectualidade latino-americana e caribenha. É um crime de lesa-pátria”, é o que diz o artigo escrito em conjunto por Lula, Celso Amorim e Fernando Haddad, publicado na Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (31).

Por Verônica Lugarini*

Unila Resiste - Divulgação/Facebook

O texto foi produzido após a repercussão da Emenda Aditiva à Medida Provisória 785/2017, de autoria do deputado federal Sérgio Souza (PMDB/PR), que ataca e prevê o fim de um projeto educacional de integração da América Latina, a Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila) e a criação de uma Universidade Federal do Oeste do Paraná.

A extinção da universidade localizada na tríplice fronteira – Brasil, Argentina e Paraguai em Foz do Iguaçu, no Paraná – vem junto a uma enxurrada de desmontes do governo Michel Temer, que carece de sobriedade e legitimidade.

A política externa do atual governo já vinha demonstrando a sua incapacidade diplomática pela falta de conhecimento sobre a América Latina e, principalmente, pela retomada da síndrome de vira-lata que assolava o Brasil antes de políticas de valorização e integração dos países andinos e caribenhos, durante os governos Lula e Dilma – de 2003 a 2011 e de 2012 a 2015, respectivamente.

Em seu mandato, o ex-presidente Lula deu início a um projeto, junto com o então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que construía pontes e viabilizava protagonismo entre os países latino americanos.

Hoje, observa-se um desmonte dessas políticas com a extinção da Unila em prol dos interesses políticos capitalistas que vão, aos poucos, corroendo a diplomacia brasileira e a educação como forma de aprendizado, troca cultural e emancipação. Tudo isso sob pretexto de transformar a Unila na Universidade Federal do Oeste do Paraná, já existente como Universidade Federal do Paraná e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).

A intenção do deputado com essa mudança é beneficiar empresas ligadas ao agronegócio, já que Sérgio Souza é presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados e representante da bancada ruralista.

Diante do exposto, um político sem conhecimento na área educacional não tem embasamento para extinguir uma instituição criada a partir de um projeto de lei em 2008 – a proposta da Unila tramitou por dois anos na Câmara e no Senado até ser aprovado sem alterações no texto original e por unanimidade, sendo sancionado em 2010 por Lula.

Souza inclusive, foi mencionado na Operação Carne Fraca por ter seu nome citado em ligações telefônicas de peemedebistas. Nesses telefonemas, os políticos diziam que o deputado recebeu dinheiro para ter sua campanha beneficiada por esquema criminoso.

Proposta da Unila

A proposta da instituição tem como base a formação de sujeitos que incidam nos problemas sociais e econômicos da América Latina, desde a Argentina até México, a partir de áreas específicas. O conhecimento teórico é embasado por aulas bilíngues e interdisciplinares que integram esses estudantes desses países que virão a produzir conhecimento includente sobre a cultura latina, caso a MP não vigore.

E os brasileiros são os principais beneficiários dessa integração educacional. De acordo com dados divulgados pela página do Facebook Unila Resiste, os brasileiros compõem mais da metade dos estudantes da universidade, com 68% das vagas, sendo 52% deles paraenses, sendo o número total de alunos 4.131.

A perspectiva de produção de conhecimento dentro da instituição também é grande, são 446 projetos de pesquisa que abarcam a multidisciplinaridade, além dos cursos de especialização, pós-graduação, mestrado e doutorado.

Em entrevista ao Sul21, o professor Helgio Trindade, ex-presidente da Comissão de Implantação da Unila (2008-2009) e ex-reitor da Unila (2010-2013), definiu como “estapafúrdia” e “inaceitável” a proposta apresentada pelo parlamentar paranaense e ainda disse que o caso é um retrocesso inominável e uma interferência, não só na autonomia universitária, como na autonomia do próprio Ministério da Educação que não solicitou ao governo qualquer medida no sentido do fim da Unila.

“Durante meu mandato a Unila cumpriu seus objetivos previstos no projeto no recrutamento latino-americano de alunos e professores com um ciclo comum aos alunos de todos os cursos com ênfase em Estudos Latino-americanos, línguas estrangeiras e Metodologia em ensino e pesquisa, bem como a estrutura institucional formada por institutos em Ciências e Humanidades e Centros Interdisciplinares, evitando os feudos das tradicionais faculdades de Direito, Medicina e Engenharia embora essas áreas fossem contempladas de outras formas dentro da universidade. Nesta perspectiva o Instituto Mercosul de Estudos Avançados (IMEA) e as Cátedras Latino-americanas foram instituídas, para oferecer diretrizes aos cursos de graduação e pós-graduação e vieram alunos de todos os países da América do Sul”, informou o professor ao Sul21.

Unila Resiste

O artigo em defesa da universidade publicado na Folha de S.Paulo – do ex-chanceler Celso Amorim, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e do ex-presidente Lula – foi apenas uma das manifestações de apoio à instituição. No texto, os autores ainda lembram que a integração da América do Sul e da América Latina e Caribe não é projeto de um governo apenas e nada tem de ideológico, que é apenas a realização de um mandato constitucional.

“É inacreditável que um projeto dessa grandeza, de alto valor simbólico, esteja ameaçado por uma proposta parlamentar que visa a extinguir a Unila, a pretexto de transformá-la na Universidade Federal do Oeste do Paraná. No entanto, a região já dispõe da Universidade Federal do Paraná e da Unioeste, com campi em dois e em cinco municípios, respectivamente, além do Instituto Federal do Paraná, que oferece formação em nível superior”, aponta o artigo.

Na página do Facebook Unila Resiste, Dilma Rousseff, Leonardo Boff e Jandira Feghali do PCdoB se posicionaram a favor da manutenção do projeto original da Unila.

É possível contra a medida clicando aqui e também assinar a petição para a supressão da emenda nesse link.