Abimaq: TLP significará menos investimentos e mais desindustrialização

A mudança no cálculo da taxa de juros para empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é “inadequada” e vai representar um “retrocesso nos investimentos”. A avaliação é do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan. Ele avalia que a alteração proposta pelo governo pode levar “à redução substancial do papel do BNDES como banco de fomento” e “ a um aumento da desindustrialização no país”.

João Carlos Marchesan

Em nota publicada no site da Abimaq, intitulada “O impacto da nova TLP na indústria de bens de capital”, Marchesan afirma que não há “momento mais inoportuno que o atual” para discutir uma mudança na metodologia de cálculo da taxa de juros de longo prazo. Segundo ele, a proposta do governo Michel Temer “trará resultados negativos para o setor de bens de capital”, pois “vai necessariamente representar um encarecimento efetivo nos financiamentos para investimentos no país”.

Proposta pelo governo, a Medida Provisória 777/2017 extingue a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) – que desde 1994 estabelece o custo básico dos financiamentos concedidos pelo BNDES – e cria, em seu lugar, a Taxa de Longo Prazo (TLP). A nova taxa será calculada a partir da inflação (IPCA) mais uma taxa real de juros pré-fixada baseada na NTN-B. A matéria deve ser votada na comissão mista que a analisa nesta quarta (9).

“Precisamos nesse momento de uma política que torne as taxas de juros de financiamentos de longo prazo compatíveis com o retorno das atividades produtivas, facilitando a volta dos investimentos e a consequente criação de empregos, capaz de dar novo impulso à roda da economia. Sem a retomada do crescimento será muito difícil que o ajuste fiscal dê certo e que o governo volte a ter equilíbrio nas contas públicas”, escreve Marchesan.

Segundo ele, o aumento dos custos nas linhas de financiamento do BNDES terá, portanto, consequências “nefastas”. O empresário lembra que o país deve fechar 2017 com apenas 15% do PIB em investimentos, “um baixíssimo índice de Formação Bruta de Capital Fixo, o menor da série histórica”. Para Marchesan, em função disso, o governo deveria atuar no sentido oposto da MP 777/2017.

“Na prática sabemos que a medida [a criação da TLP] é totalmente inadequada, especialmente nesse momento de crise que estamos vivendo e certamente vai representar um retrocesso nos investimentos, onde já apresentamos grande queda”, criticou.

A nota afirma ainda que a substituição à TJLP, deve reduzir o papel do BNDES como banco de fomento, uma vez que tornará o financiamento produtivo nacional mais caro do que o bem importado com financiamento no exterior.

“Na hipótese do alinhamento da TJLP com as taxas de mercado, (NTN-Bs), o custo do financiamento produtivo subiria dos atuais 14,7% ao ano para 18% ao ano, que corresponderia a um custo adicional no financiamento, com acréscimo de quase 10% ao preço do equipamento. A nova metodologia de cálculo da TLP vai levar a um aumento da desindustrialização no País, o que representaria uma piora para o nosso setor”, completa.

A Abimaq cita então duas medidas que poderiam fazer com que o Congresso evite a criação da TLP. A primeira é o que a entidade chama de ajuste preferencial via redução da taxa Selic. “A convergência da Selic para a TJLP é perfeitamente possível no arco de 18 meses, considerando a queda da inflação a níveis inferiores à meta estabelecida, conforme previsão do próprio Banco Central. A vantagem dessa recomendação é evitar custos adicionais nos investimentos produtivos e garantir previsibilidade das taxas de juros de longo prazo”, diz o texto.

A segunda recomendação da Abimaq é “reduzir, até eliminar, o peso das LFT na composição da dívida pública, o que tornaria a política monetária eficaz sem prejudicar a ampliação do capital produtivo”.

De acordo com a entidade, mantida a intenção de revisão da metodologia de cálculo da TJLP, uma alternativa seria adotar a proposta sugerida na emenda 01 à MP 777, que propõe que a taxa seja calculada pela variação projetada do IPCA para os próximos 12 meses, somada à metade do percentual esboçado para o crescimento do PIB nos próximos 12 meses. “Este modelo teria a vantagem de atuar de forma anticíclica”, diz Marchesan.