Publicado 17/08/2017 18:53
Desde 1º de janeiro, a gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), já eliminou 51 linhas de ônibus em várias regiões da cidade, das quais 50 eram diárias e uma noturna. Outras 29 linhas foram alteradas. Cinco deixaram de circular aos sábados, 12 não rodam mais aos domingos e feriados e 12 tiveram seus itinerários reduzidos, passando a exigir integração dos passageiros para chegar ao destino atendido anteriormente. Mais cinco serão alteradas em breve. As informações foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação e consultas a dados divulgados pela São Paulo Transporte (SPTrans).
Das nove regiões da cidade em que está dividido o transporte coletivo de ônibus, somente a zona sudeste (5) não teve mudanças em linhas. A região central (9) não é origem de linhas, apenas destino. A zona leste (áreas 3 e 4) teve mais modificações, com 32 linhas alteradas. Em seguida vem a zona sul (áreas 6 e 7), com 25 mudanças. A região norte (2) teve 14 mudanças. A região oeste (8) teve sete alterações e a noroeste (1) teve seis modificações. Aqui consideradas as cinco que vão ocorrer até o final do mês.
Para Diego Soares, membro do Coletivo Luta do Transporte São Mateus, essa medida beneficia os empresários, porque obriga a população a fazer mais baldeações ou andar em ônibus mais lotados. "O corte visa economia e lucro. Pra não ter o desgaste de aumentar a tarifa, reduz-se o número ou o tamanho das linhas, fazendo a população rodar mais vezes a catraca, aumentando o ganho dos empresários do transporte", afirmou.
Segundo o ativista, não houve qualquer diálogo com a gestão nas regiões que seriam afetadas pelos cortes. "A gente só fica sabendo pelo anúncio feito nos próprios ônibus. A população que se vire", criticou.
Em reportagem produzida em maio, a RBA já havia denunciado o elevado número de cortes de linhas de ônibus, que eram 21 naquele momento. Rafael Calabria, pesquisador em mobilidade urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e membro do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (CMTT), considerou que mudanças desse tipo deveriam ser dialogadas com a população e inseridas no processo de licitação do transporte coletivo que deve ser retomado em breve.
“A licitação prevê um grande número de alterações de linhas e essas mudanças feitas aparentemente sem critérios técnicos ou conexão com o planejamento proposto na licitação preocupam. Estão fazendo reformulação às escondidas, como se fossem mudanças pontuais. Não é uma ação geral, mas 80 linhas têm um impacto significativo. A gestão deveria fazer audiências públicas com a população, para explicar as mudanças e mostrar qual o objetivo dessa reorganização”, argumentou Calabria.
O pesquisador destacou que algumas alterações podem deixar locais sem transporte coletivo e que a população deve reclamar nos serviços municipais (pelo telefone 156 ou no site da prefeitura) ou ao Ministério Público quando se sentir prejudicada pelo corte de linhas. E se organizar para reivindicar audiências públicas sobre o tema na prefeitura regional.