Lula aos golpistas: Vocês vão pagar pelo que fizeram com a democracia
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início à sua caravana pelo Nordeste brasileiro nesta quinta-feira (17). A primeira parada foi em Salvador, na Bahia, onde foi recebido por uma multidão no lançamento da 3ª fase do Memorial da Democracia, em evento na Arena Fonte Nova.
Publicado 18/08/2017 10:34
Em discurso, Lula avisou a golpistas que derrubaram Dilma: “Vocês vão pagar com a mesma moeda o que fizeram com a democracia brasileira. E em 2018 a gente vai eleger uma pessoa democraticamente”.
Demonstrando que está disposto a lutar pelo Brasil, mesmo com a maratona de atividades do dia anterior, o ex-presidente acordou cedo e foi até a rádio Metrópole de Salvador, onde concedeu uma entrevista ao jornalista Mario Kertész.
Lula lembrou que a primeira caravana que fez foi em 1992, de Pernambuco a São Paulo. Ele enfatizou que a caravana tem o objetivo de ouvir o povo e saber dos anseios da população. “Quero saber qual é o sentimento do povo brasileiro”, afirmou.
Ele voltou a defender sua inocência nas ações penais da Lava Jato e salientou que o objetivo dessas ações é concluir o golpe, iniciado em 2016 com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff.
“Deram um golpe, colocaram o Temer e o Brasil afundou”, disse Lula. “Eles vão ter que se explicar para a sociedade. Eu quero estar vivo para ver qual é a explicação deles. A Lava Jato está virando um partido político e tem espaço garantido na televisão. Se eu voltar em 2018, vou voltar mais forte. Eles sabem que sou capaz de envolver toda a sociedade brasileira e resolver o problema do país”, acrescentou.
Na entrevista, Lula disse que se tivesse um coração fraco não teria aguentado tanta emoção vivida no dia anterior. “Foi muito forte as obras do metrô e o comportamento dos trabalhadores. Nunca vi tanto carinho, tanto afago como o povo baiano demonstrou”, relatou.
De fato, a chegada de Lula ao Memorial foi apenas uma parte de uma verdadeira maratona. Desde a sua chegada, passando pelo metrô, até chegar à Fonte Nova, Lula foi sempre cercado por centenas de pessoas que queriam cumprimentá-lo, agradecer ou apenas manifestar seu apoio diante da perseguição sofrida pelo ex-presidente.
“Quero andar pelo país para contar ao povo o que está acontecendo” , disse o ex-presidente, destacando que a caravana será uma jornada para compreender a atual realidade brasileira. “É por isso que decidi voltar a andar por esse país. Não é pra falar de eleição, é pra entender o que está acontecendo nesse país. Quero andar por esse país pra despertar a consciência do povo”, afirmou Lula.
“Se eles têm vergonha de contar a história deles, nós não temos de contar a nossa. Eles cassaram a Dilma, mas não cassaram as coisas boas que essa mulher fez pelo país. E eles sabem que a minha história eles não vão apagar”, disse.
A viagem foi marcada também por reencontros. Lula recebeu o carinho do hoje jovem Everton Santos Conceição, que quando tinha 11 anos foi com o seu pai num comício, em 2006, com a presença de Lula em Lauro de Freitas. No ombros do pai, um gesto de carinho do menino no rosto de Lula foi registrado pelas lentes do fotógrafo Ricardo Stuckert, eternizando a imagem.
Lula andou de metrô, visitou as obras de extensão da linha 2 e foi recebido e cercado por milhares de pessoas no Campo da Pólvora, de onde seguiu para a Arena Fonte Nova.
Já no evento, o ex-presidente comentou a decisão do juiz que barrou a cerimônia de entrega do título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que ocorreria nesta sexta-feira (18). Mas não deixou de mandar o seu recado.
“Amanhã vamos para Cruz das Almas, vou dar um beijo na testa do reitor, dos professores e dos estudantes. Eles me deram esse título porque foi um cidadão torneiro mecânico, sem diploma universitário, que construiu mais universidades nesse país”, disse Lula.
A decisão do magistrado, que fere a autonomia universitária, ocorreu após pedido de vereador do DEM. Lula fundou a universidade em 2006. “Queria falar ao vereador que ele tem o direito de não gostar de mim, porque ele é do DEM e não precisa gostar de mim, porque eu também não gosto dele”, afirmou, enfatizando não ser por motivos pessoais, mas ideológicos. “Todo mundo sabe o que eu fiz na Bahia. Eles têm medo pelo que nós vamos fazer daqui pra frente.”
Sobre 2018, Lula afirmou que o país precisa se preparar para “colocar uma pessoa democrata para governar”. E acrescentou: “A ideia da liberdade, da democracia, da participação social é muito forte. Não adianta achar que acabando com Lula acaba com isso”.
Lula também avisou que está com “71 anos, mas com vontade de lutar como se tivesse 30”.
Fora Temer
Lula também falou sobre a crise econômica que gerou 24 milhões de desempregados, segundo dados do IBGE. “Tem mais gente na rua hoje do que quando eu cheguei na presidência”, frisou, afirmando que Temer deveria renunciar.
“Se um governante não tem competência pra resolver a crise e começa a vender o patrimônio deste país, esse governo tem que pedir desculpas e ir embora, porque não serve para governar”, afirmou.