Privatização nos anos 90 trouxe morte a trabalhador eletricitário

A privatização de parte do setor elétrico nos anos 90 penalizou o trabalhador eletricitário. Nota técnica do Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), publicada em março deste ano, afirma que a privatização precarizou as condições de trabalho além de aumentar tarifas e piorar os serviços. Na segunda-feira (21), Michel Temer anunciou a privatização da Eletrobras para fazer caixa.

Por Railídia Carvalho

Energia não é mercadoria é bem social - Arquivo do Sindicato dos Urbanitários no DF

O cenário de crise vivido no Brasil aliado à anunciada privatização da Eletrobras aponta para um agravamento no quadro de precariedade dos trabalhadores do setor e para uma nova onda de demissões a exemplo do que aconteceu de 1994 a 2001, quando o processo de privatização eliminou 90 mil postos de trabalho formal no setor elétrico.

À medida que decresce o trabalho formal aumenta o contrato terceirizado, que é a marca da privatização naquele período, afirma a nota. E são justamente os trabalhadores terceirizados as principais vítimas das mortes registradas entre 2009 e 2015.

“É complicada essa história (terceirização) em setores importantes, especialmente o elétrico que oferece um risco à vida dos trabalhadores. Trabalham com eletricidade que é uma coisa invisível que pode te matar. Há uma expansão grande da terceirização, especialmente na distribuição de energia” afirmou Carlos Machado, técnico do Dieese e consultor do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG).

Privatização: Morte ou mutilação

Dados da Aneel, Indicadores de segurança do Trabalho e das instalações somam 2.561 mortes em sete anos, o que resulta em média em uma morte por dia. Em 2015 foram 348 mortes no setor elétrico, deste total 286 resultaram de acidentes com terceirizados envolvendo a rede elétrica.

“A gente sabe que a gestão do trabalho dentro da lógica privada é diferente da gestão pública. As privadas estão empenhadas em ter o máximo lucro sem uma tradição no setor e sem conhecimento acumulado. O resultado disso foi um número grande de mortes e acidentes graves, que se não matam, mutilam”, analisou o consultor do Dieese.

Carlos lembrou também que o conhecimento gerado pelo trabalhador eletricitário também está sob risco, o que implica no prejuízo na qualidade do serviço prestado à população.

Segundo ele, os trabalhadores com muitos anos de casa foram trocados por terceirizados ou obrigados a aderir a Programas de Demissão Voluntária. Pesquisa CUT/Dieese aponta que esses
trabalhadores trabalham mais e ganham menos do que os contratados diretos.

Sucateamento do serviço público

“Esse é o parâmetro da lógica privada que busca a produtividade e lucro. Essa é a missão das empresas privadas e não oferecer uma energia de qualidade. Para isso é preciso baratear a mão-de-obra. Esse conhecimento que o trabalhador tinha se expressava, por exemplo, em menos tempo de interrupção de energia. Com a mudança da lógica da gestão e a terceirização começam a aparecer os problemas de qualidade”, comparou Carlos.

Na opinião dele, o movimento sindical terá um grande desafio pela frente no combate à ofensiva contra as estatais. “O que está anunciado é uma reforma completa do setor no sentido de deixar de ser público o serviço. Os sindicatos precisam compreender o que está acontecendo e se manter em luta em defesa das condições de trabalho.”, enfatizou.

O consultor do Dieese lembrou que na segunda metade dos anos 90 a legislação restringia a terceirização para atividade-fim, aquela que tem relação direta com o produto principal da empresa. Mesmo assim, a lei de concessões de 1995 permitiu a contratação para atividade-fim. “Imagine agora com a legislação permitindo contratações flexíveis”, alertou