Petição on line leva apoio popular a réus do caso CCSP

Estudantes foram presos antes de uma manifestação contra o governo Temer, em dezembro de 2016; caso ficou marcado pela infiltração de Balta Nunes, capitão do exército.

Jovens presos no CCSP em dezembro - ANDRÉ LUCAS/CHOC DOCUMENTAL

Transformados em réus no último dia 28 pela Justiça paulista, os 18 jovens que foram presos em dezembro 2016, no Centro Cultural São Paulo, antes de uma manifestação contra o governo Temer passaram a receber apoio popular, por meio de uma petição online que, em pouco mais de uma semana, já ultrapassa o número de 3,5 mil assinaturas – a meta é chegar a 5 mil apoiadores.

Segundo o jornalista Felipe Paciullo, um dos réus no caso, o suporte da sociedade diminui o sentimento de solidão, já que ele não tem relação com os outros 17 indiciados. "Isso mostra que eu não estou sozinho. Dentro da história toda sou aquele que está mais de escanteio, porque nem na manifestação eu ia", explica o rapaz, preso enquanto fazia uma pesquisa acadêmica na biblioteca do Centro Cultural.

O caso foi marcado pela presença no grupo do então capitão do exército William Pina Botelho, o Balta Nunes, que atuava como agente infiltrado e foi quem forneceu à polícia informações que levaram à prisão dos jovens.

Para um dos réus, que pede para não ser identificado, é difícil prever como será a audiência – marcada para o próximo dia 22 – com a juíza Cecília Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal do Fórum Criminal da Barra Funda. "Não sabemos nem como chegamos até esse ponto (de virar réu). É assustador", conta.

Ele afirma que a acusação lembra o roteiro de um filme, em que as pessoas são presas antes de cometerem crimes. "Não existe a possibilidade de condenar, se selevar pelo lado jurídico, porque (o caso) não se enquadra em nada. É meio Minority Report, tudo que a gente 'poderia fazer', acusando no futuro. Se houver a condenação, ela será política."

A denúncia contra os jovens menciona gaze e vinagre – usados para amenizar os efeitos do gás lacrimogênio e spray de pimenta, largamente usados pela PM contra manifestações populares – como possíveis artefatos usados para depredar patrimônio público e privado. Além disso, ainda segundo a denúncia, seriam usados para ferir policiais e outras pessoas durante a manifestação.

De acordo com Hugo Albuquerque, advogado dos manifestantes, o caso é complicado, mas assegura que os jovens apenas exerciam o direito previsto na Constituição Federal de 1988, o que caracteriza uma arbitrariedade da Justiça.

"Eles não chegaram, contudo, sequer a ir a manifestação e nada fizeram. Trata-se de um absurdo. Mas isso não é apenas contra eles, mas contra toda a sociedade brasileira: aquela prisão arbitrária, e sua continuidade na forma de processo criminal, poderia ser contra qualquer um dos milhares de manifestantes que saíram às ruas naquela semana", afirma.

Nesta quarta-feira (13), será realizada uma reunião aberta para a formação de um grupo de solidariedade aos jovens, às 19h, na Sala C da Câmara Municipal de São Paulo, para que na sexta-feira (15), 17h, se reúnam com o Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP).