Temer e Meirelles vendem Brasil em NY: está barato
Em reuniões em Nova York com empresários e investidores, Michel Temer e sua equipe divulgaram sua lista das privatizações. Em busca de atrair o capital estrangeiro, o presidente tentou apresentar um cenário positivo e passar uma ideia de estabilidade, apesar da crise política e da estagnação econômica. Na ânsia de vender o Brasil, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que é hora investir no país. Afinal, está barato.
Publicado 20/09/2017 18:21
A viagem da comitiva do governo brasileiro aos Estados Unidos tem uma agenda paralela à conferência das Nações Unidas. Além de Temer, seis ministros, quatro parlamentares e os presidentes da Petrobras, do BNDES, do Banco do Brasil e do Banco Central, têm participado de encontros com possíveis investidores.
Durante evento do Financial Times intitulado FT Brazil: The Road Ahead, nesta quarta (20), Meirelles disse que o Brasil supera a pior recessão de sua história, embora economistas apontem que o módico crescimento registrado nos últimos trimestres ainda não seja motivo de comemoração. Ao invés de crescimento, eles projetam estagnação.
Entusiasmado, o ministro anunciou a liquidação: "Estamos saindo do fim de uma longa recessão. Foi a mais profunda e a mais longa recessão do Brasil. Perdemos muitos empregos. (…) É o momento em que a economia está começando a crescer, mas os preços não refletem ainda a recuperação. É precisamente o melhor momento para se investir no Brasil. Eu sempre chamo a atenção dos investidores para isso”, disse.
De acordo com o Valor Econômico, ao ser questionado se o país estaria pela metade do preço, o ministro respondeu afirmativamente: “absolutamente”. É isso. O governo quer vender o país e vai ser barato mesmo.
O governo tem tentado animar os estrangeiros, exaltando indicadores – como a queda da inflação e dos juros – e uma suposta responsabilidade fiscal, representada pelas reformas.
“Estamos num momento de reformas, de maior abertura ao mundo, de renovadas oportunidades. De alguma forma, sinto que estou pregando para convertidos. Vejo que muitos dos que estão aqui já têm importantes investimentos em nosso país", discursou Temer no seminário do Financial Times.
Ignorando a crise nas instituições brasileiras e o clima de incertezas que paira sobre o país, o presidente que assumiu após o golpe pintou um Brasil estável. "As senhoras e os senhores sabem que encontram, no Brasil, um destino seguro para fazer negócios. Sabem que encontram um povo criativo e trabalhador. Sabem que encontram instituições sólidas e parceiros confiáveis”, afirmou.
Segundo ele, o Brasil acumula características que o tornam especialmente atrativo para investidores de todas as partes do mundo. “Somos, historicamente, um espaço de estabilidade, distante dos focos de tensão geopolítica. Estamos em paz com nossos dez vizinhos há mais de 140 anos”, continuou Temer.
Temer referiu-se à crise econômica, que, para ele, tinha natureza sobretudo fiscal. “Daí nosso empenho, desde a primeira hora, em conceber uma agenda de reformas que fosse à raiz desse problema”, disse, enumerando medidas de seu governo, como a aprovação do teto de gastos públicos e a reforma trabalhista. Segundo ele, “com muito diálogo”, será possível avançar na reforma da Previdência. Pesquisa Datafolha de maio mostrou que pelo menos 71% dos brasileiros são contra as mudanças na aposentadoria.
Em seguida, Temer falou sobre as vantagens para os investidores que quiserem vir ao Brasil, citando seu pacote de privatizações “As perspectivas são muito especialmente animadoras na área de infraestrutura. De portos a aeroportos, de rodovias a ferrovias, de linhas de transmissão a campos de petróleo: só na nova fase de nosso Programa de Parcerias de Investimentos, são 57 empreendimentos conjuntos com a iniciativa privada”, anunciou.
Para o presidente, à frente de um governo que leva à risca a ideologia neoliberal, "as ideologias foram por terra" e o que "interessa, hoje, são os resultados". O presidente encerrou seu discurso, alardeando que “o Brasil voltou” – às prateleiras, provavelmente.
Diferente dos ministros presentes, Temer foi o único a não participar de debates ou responder questionamentos de editores do jornal.