A luta política é o caminho para a superação do capitalismo

 A terceira etapa do seminário sobre os "150 anos de O Capital" contou com mais uma mesa de peso com a participação do Economista Luiz Gonzaga Belluzzo (UNICAMP), da Filósofa Madalena Guasco (PUC/SP) e da Economista Gláucia Campregher (UFRGS). O tema foi “Estrutura, Método e Teoria de O Capital”.

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Uma das conclusões que fica evidente diante da receptividade do público no seminário que conta com 350 inscritos, assim como pelas abordagens de todos os palestrantes, é sobre o quanto ainda é palpitante e atual a obra de Karl Marx, em seu conjunto, e sobretudo em o "O Capital". E que é uma ferramenta para a luta dos trabalhadores e excluídos.

A professora Madalena Guasco fez uma profunda exposição sobre o método materialista-dialético e suas categorias. Marx, segundo ela, conseguiu criar uma lógica e unidade na leitura sobre a história da humanidade. "O método serve para dar conexão aos fatos. A sociedade burguesa, para Marx, é a chave para a compreensão das sociedades anteriores. A sociedade capitalista é produto do desenvolvimento histórico". Então, segundo ela, carrega em si todas os outros modos de sociedade anteriores, bem como as chaves para a sua superação. "A concepção de Marx é a da não naturalização dos sistemas econômicos (são fatos históricos, portanto)".

Guasco também criticou a abstração (teorias pós-modernas) criada com fim de esconder a contradição básica do sistema, que a sua incapacidade de gerar um bem estar geral para a sociedade. "Essas teorias decretaram o fim da centralidade do trabalho na sociedade, mas sem decretar o fim do capital?", questiona.

A Economista Gláucia Campregher discorreu sobre seu trabalho denominado "Desdobramentos lógico-históricos da ontologia do trabalho em Marx", além dos muitos aspectos que caracterizam a filosofia marxista, sua origem e relação com a crítica hegeliana. "Para mim, Marx substitui a ontologia hegeliana do ser, pela do trabalho. Por isso, o homem é, concretamente falando, as relações sociais que o condicionam. Só que essas relações não são somente, por exemplo, o assalariamento e suas derivações mais diretas. O que quero dizer é que se no Marx fazemos a história mais que no Hegel é porque não fazemos a história em condições que herdamos pacificamente."

"A importância do materialismo-histórico-dialético hoje, mesmo enquanto filosofia, seria poder capacitar o olhar das pessoas pra elas olharem bem longe no tempo e bem perto no espaço. Seria isso equivalente a multiplicarmos os ângulos de visão dos seres todos que nos circundam. Esse aumento da capacidade de ver, e de ver melhor, traria consigo a necessidade de um entendimento diferente, aquele voltado à necessidade de agir", resume.

Outra grande atração da noite, o Economista Luiz Gonzaga Belluzzo, cravou: "O capitalismo não tem solução para a as suas contradições. A ação política dos subordinados (daqueles que não são do proprietários do capital) é a solução".

O economista citou com preocupação, para situar a realidade atual do capitalismo, o caso da Alemanha. O país é um dos mais bem sucedidos e desenvolvidos do mundo, mas conta atualmente com mais de 8% de desempregados. "O capital é despótico, tende a multiplicação de sua capacidade produtiva, mas gera miséria. A pessoa fica sem acesso aos meios básicos de vida."

Última etapa no dia 27/9

No dia 27 de setembro ocorre a última mesa do Seminário: "As crises capitalistas e a atualidade do capital". Terá como palestrantes a economista Leda Maria Paulani (USP), o economista Aloísio Barroso (FMG) e o economista Marcelo Milan (UFRGS). A coordenação da mesa será do economista Mark Kuschick.

O seminário "150 anos de O Capital" conta com a participação de renomados estudiosos das áreas de economia, história, ciências sociais e filosofia, oriundos de seis universidades, de três diferentes Estados. Ocorre às 18h30, no auditório da Fetrafi Sul (Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do RS), rua Fernando Machado, 820, Porto Alegre.

É organizado pela Fundação Maurício Grabois, pelo Instituto Histórico Geográfico do RS, Sindicato dos Economistas, Departamento de Economia e Relações Internacionais da FCE/UFRGS, DCE/UFRGS e DAECA e pela Sociedade de Economia. Outras vinte entidades sindicais, populares e de ensino são co-promotoras do evento.

Clomar Porto