Piovesan sobre autonomia no governo: "Às vezes com censura"

De saída do cargo de secretária nacional de Cidadania de Michel Temer para ocupar a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), Flávia Piovesan diz que tem autonomia foi uma das marcas de sua passagem pelo governo. "Às vezes com preço, às vezes com uma censura posterior", disse ela, que criticou o governo nesta semana por causa das mudanças nas regras para inspeção do trabalho escravo.

Flávia Piovesan

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Piovesan diz que enfrentou pressões internas, principalmente do Ministério do Trabalho. Cobrava providências do órgão contra o problema não só como secretária, mas também como presidente da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Foi como representante do conselho que, em nota divulgada na segunda-feira (16), ela pediu a revogação da medida.

No governo desde maio de 2016, quando a Secretaria de Direitos Humanos era subordinada ao Ministério da Justiça, em fevereiro a professora e advogada passou a responder à ministra de Direitos Humanos, mas suas funções foram mantidas.

"Eu sentia e sinto tensões com o Ministério do Trabalho. Foi uma das áreas mais sensíveis, ao defendermos a lista suja do trabalho escravo e criticarmos a nova portaria, que no nosso entendimento compromete a fiscalização."

Quando questionada sobre a sua posição em relação às reformas trabalhista e previdenciária, Piovesan afirma que tem "preocupação".

"Tenho preocupação, na reforma trabalhista, com o "negociado acima do legislado", em razão da vulnerabilidade de trabalhadores, sobretudo os rurais. Temos que avaliar passo a passo a implementação. Na Previdência, o tema é a sustentabilidade. É fundamental que direitos previdenciários sejam respeitados, mas que haja um pacto geracional", disse.