Publicado 22/10/2017 10:57
Antes de ser localizado pelos agentes públicos, limpava um gigantesco pasto no sol e na chuva por R$ 150, comia arroz com mandioca frios num minúsculo intervalo e recebia diariamente tortura psicológica e física de capatazes do dono da terra. Chegou a desenvolver doenças com as péssimas condições de trabalho, como uma coceira que o fez perder parte dos músculos do pé até atingir o osso.
Francisco é um dos 50 mil trabalhadores resgatados nos últimos 22 anos por trabalho análogo à escravidão, mas isso pode mudar. A portaria 1.129 editada esta semana por Michel Temer promete impedir ou dificultar o combate ao trabalho escravo em pleno 2017. Covarde, o presidente ilegítimo entregou à própria sorte milhares de brasileiros que sofrem com trabalhos degradantes. E isso para tentar se safar da votação sobre a denúncia da PGR que ocorrerá no Parlamento em breve.
É inaceitável que um país seja destruído e pilhado para que um núcleo político corrupto (e parte dele já preso) continue governando para uma elite inescrupulosa, grandes latifundiários e empresários desonestos. Vimos nestas últimas semanas a aprovação de uma renúncia fiscal vergonhosa, atingindo o patamar de R$ 400 bilhões, ao mesmo tempo em que aliados de Temer bradam cinicamente que a Previdência está deficitária e precisa-se aprovar uma “reforma”.
Na esteira do entreguismo, também vieram acordos de leniência para banqueiros com o Banco Central, podendo reduzir suas multas de R$ 500 milhões para R$ 50 mi. Até as igrejas, com sua bancada política, chegaram a ter todos os tributos desonerados na Câmara (mais tarde corrigido no Senado). Vende-se a Amazônia, acaba-se com a CLT, rasga-se direitos, aniquilam direitos dos indígenas para safar um presidente sem voto, sem projeto, sem caráter.
Enquanto isso, cortes nos orçamentos das universidades publicas e ensino técnico, cortes na Farmácia Popular, cortes no Bolsa-Família e cortes em políticas estratégicas de desenvolvimento nacional. Vê-se o fim do Ciências sem Fronteiras, a drástica redução do orçamento da Ciência e Tecnologia, além da asfixia aos direitos humanos. Viramos um povo sem emprego, sem escola, sem hospital, sem renda e com risco de ver a aposentadoria nunca chegar.
E isso tudo em nome de quê? De um Brasil que está sendo liquidado? De um Brasil que seja comandado por pessoas como Eduardo Cunha, Geddel e suas malas de dinheiro sujo, além de Moreira Franco e Eliseu Padilha?
Uma presidenta, eleita democraticamente, teve seu processo de impeachment iniciado sem crime. Que os deputados federais compreendam que é preciso, sim, autorizar o processo de investigação de Temer no Supremo Tribunal Federal. Há provas e não apenas fortes indícios, o que já seria suficiente. Este não é somente um apelo meu, mas dos 190 milhões de brasileiros que não apoiam e não aceitam a continuidade deste governo. Entre eles, Francisco, ex-escravo, que agora vê seu passado, talvez, virar rotina a tantos outros.