Ministro da Justiça de Temer acusa: PM do Rio tem “acerto” com o crime

Como um comentarista daqueles programas policialescos, o ministro da Justiça Torquato Jardim disse em entrevista publicada pelo blog do jornalista Josias de Souza, do UOL, que o governador do Rio de Janeiro e o secretário de Segurança não controlam a Polícia Militar, que por sua vez é comandada por um "acerto com deputado estadual e o crime organizado".

Torquato Jardim

Segundo o ministro de Temer, "comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio" e ainda disse estar convencido de que o assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo Teixeira, comandante do batalhão do Méier, não foi resultado de um assalto, como afirma o governo do Rio de Janeiro, mas um execução resultado de um acerto de contas.

Torquato disse ainda que para a crise no Rio de Janeiro a solução é simples: novas eleições para presidente e governador. Disse que o socorro federal ao Rio, com o envio de tropas, vai atenuar os problemas, mas que a "virada de curva" só será possível em 2019.

Além de afirmações e opiniões, o ministro faz acusações graves contra o governo e o comando da segurança pública do estado. Fatos graves que, se comprovados, devem ser devidamente apurados. Até agora, o Ministério da Justiça não se pronunciou sobre o assunto, mas as explicações não vão conseguir dar fim a crise que se instalou após a entrevista.

Reação?

As declarações deixaram o governador Luiz Fernando Pezão em uma situação no mínimo constrangedora, que nem mesmo entrevista conseguiu dar para rebater o ministro.

Por meio de nota, Pezão se limitou a dizer que o governo e o comando da Polícia Militar não negociam com criminosos e que o ministro da Justiça nunca o procurou para tratar do assunto falado na entrevista. Esse foi o máximo de reação do governador.

Sobre o comando da PM, Pezão disse que as escolhas de comando de batalhões e delegacias são decisões técnicas e que jamais recebeu pedidos de deputados para os cargos.

Na assembléia Legislativa, os deputados tentaram demonstrar certa indignação. Parlamentares que integram a Comissão de Segurança Pública decidiram enviar representação à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para que seja aberta investigação acerca das declarações do ministro.

"O ministro não pode ser leviano a esse ponto. Se ele tem tantos órgãos sob suas ordens, que providências tomou para impedir que essas coisas aconteçam?", questionou a deputada Martha Rocha.

Flávio Bolsonaro disse que recebeu ligações de vários comandantes de batalhões e com aquele discurso peculiar da família Bolsonaro ele disse: "Peço licença para usar a palavra, mas os oficiais estão putos com essa leviandade do ministro".

O presidente da assembleia, Jorge Picciani (PMDB), em vídeo, endossou as críticas e pediu a cabeça de Torquato. "Fiquei surpreso com o desconhecimento, incompetência ou má fé do ministro da Justiça, Torquato Jardim", afirmou.