"O PCP não apoia o governo. Ele o viabiliza porque não o derruba" diz em entrevista Miguel Tiago, deputado do Partido Comunista Português

o Parlamento há cerca de 12 anos, Miguel Tiago tornou-se um dos nomes mais conhecidos no seio do PCP. Os primeiros anos da sua juventude aproximaram-no de causas estudantis e, daí até à Juventude Comunista Portuguesa, foi um passo pequeno, tendo em conta a educação que teve.

O deputado, de 38 anos, cedeu uma entrevista ao Notícias ao Minuto onde falou sobre o início da sua vida enquanto militante do PCP, da atualidade, da 'Geringonça', do Bloco de Esquerda e do Presidente da República.

Miguel Tiago recorda que a solução governativa à Esquerda, à qual não chamaria maioria parlamentar, surgiu num momento em que a Esquerda sentiu que tinha de 'travar' as políticas de Direita.

Para que tal continue a ser possível, o deputado enfatiza que o PCP é essencial. E, embora os comunistas queiram fazer mais, não deixam de dar valor ao caminho de reposição que está a ser seguido.

Apesar disso, a ideia de 'juntos somos mais fortes' é contrariada por Miguel Tiago, convicto de que se a Esquerda estivesse, de facto, junta em apenas um partido, chegaria a menos franjas da sociedade. O Bloco de Esquerda merece-lhe ainda alguns comentários, por acreditar que tem muito mais atenção mediática do que o PCP.

Quanto ao Presidente da República, o deputado acusa a comunicação social de fazer de Marcelo Rebelo de Sousa uma figura religiosa, frisando que a busca por popularidade é um dos maiores objetivos do chefe de Estado.

O Partido Comunista faz parte da maioria parlamentar à Esquerda que apoia o Governo. Alguma vez lhe passou pela cabeça uma 'Geringonça'?

Tenho dificuldade em falar de 'maioria parlamentar'. Há uma maioria de deputados na Assembleia da República que tem viabilizado o funcionamento do Governo. Nem se pode dizer que o PCP apoia o Governo, o PCP viabiliza o Governo porque não o deita abaixo. Este não é um programa que nós aplicaríamos em Portugal. Esta situação é complexa e tem a ver com as situações concretas em que nos encontramos, em que tínhamos uma Direita que estava pronta a destruir ainda do que já tinha destruído, pronta a cilindrar os direitos dos portugueses e a continuar aquele rumo.

Foi uma necessidade de travar aquilo que estava a acontecer?

Foi uma necessidade de travar aquilo que estava a acontecer. O PCP percebeu que poderia não apenas viabilizar um governo do PS mas também, de certa forma, condicionar um governo do PS que não tivesse uma maioria absoluta, por exemplo. Num governo de maioria absoluta do PS o PCP não teria nada a dizer, ou a negociar, porque sabemos que quando isso acontece o PS faz a política igual à de Direita.

Mas o PCP entendeu que neste quadro era preciso travar o PSD e o CDS e alguém teria de ir para o Governo. Perante a nomeação do António Costa, o que o PCP fez foi não apresentar uma moção de rejeição, ou seja, permitiu que o Governo entrasse em funções.