Áustria: protestos contra a extrema-direita marcam posse de Kurz

O novo Governo austríaco, encabeçado pelos conservadores de Sebastian Kurz, do Partido Popular Austríaco (ÖPV), tomou posse na segunda-feira (18) em meio a protestos de milhares de pessoas contrariadas com a volta ao poder do FPÖ (ultradireita), que participará da Coalização do governo 

manifestação na Áustria contra a extrema-direita - AFP

Após uma década sem cargos no Executivo federal, a extrema-direita voltará a ser um sócio da coalizão de Governo, com o controle de ministérios importantes como Interior e Relações Exteriores. Um sólido cordão policial impediu que os manifestantes se aproximassem do palácio imperial de Viena, onde o presidente, o progressista Alexander van der Bellen, exortou o novo Executivo a manter uma política pró-europeia e de respeito às liberdades e minorias.

O discurso do chefe do Estado refletiu a divisão da sociedade austríaca em torno da participação dos ultranacionalistas de Heinz-Christian Strache no Executivo, ao mesmo tempo em que tentou lançar uma mensagem tranquilizadora ao exterior e especialmente à União Europeia.

Van der Bellen incluiu entre os “princípios fundamentais” da ação governamental o respeito às liberdades, “às diferenças e às minorias”, num país com 700.000 muçulmanos (de 8,7 milhões de habitantes). Cobrou também “apoio aos mais fracos” sem fazer menção à intenção do novo Governo de cortar benefícios sociais, sobretudo aos refugiados, e de endurecer a política imigratória.

O presidente cobrou explicitamente do Executivo que “respeite a história da Áustria, tanto os capítulos positivos como os mais escuros”, numa clara alusão ao passado nazista do país natal de Adolf Hitler. A biografia de vários ministros, e também de Strache, inclui contatos com extremistas ou neonazistas no passado, além da filiação a confrarias pangermânicas.

Nas diversas passeatas que confluíam para os arredores do palácio imperial, o passado xenofóbico e antissemita da FPO era recordado pelos manifestantes em seus gritos e cartazes, com frases como “Gabinete dos horrores” e “Não deixem os nazistas governarem”. Cerca de 6.000 pessoas, segundo a polícia, se aglomeraram diante de um cordão policial formado por 1.500 agentes. “Com os ministérios do Interior e Defesa, a ultradireita controlará as principais alavancas do poder”, queixava-se Claudia, de 45 anos, em declarações à agência France Presse.


Sebastian Kurz, novo primeiro-ministro, e Strache, líder do partido de extrema-direita FPO 

A concentração transcorreu sem incidentes destacáveis. Em 2000, a revolta contra a participação da ultradireita no Governo obrigou os ministros a entrarem no palácio imperial por um corredor subterrâneo. Também a reação da UE, que na época isolou diplomaticamente a Áustria durante alguns meses, foi contida. O Governo alemão manifestou seu desejo de uma relação “boa e estreita”, mas também “baseada em valores”, destacou um porta-voz. A chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, comentou que “observaremos com interesse a posição deles com relação à Europa”. A França, por sua vez, confia num “diálogo pró-europeu” com a Áustria.

As medidas ultraconservadoras da nova Coalização

A nova coalização responsável por governar assume como prioridade a "segurança", medidas contra imigração e cortes de benefícios a refugiados. Quer diminuir impostos e cortar financiamentos no investimento público. Apesar de se declarar pró-europeu, promete lutar para que a União Europeia “faça menos com mais eficácia” e ter menos poder de decisão em certas áreas. Periodicamente surgem em suas fileiras casos de xenofobia e antissemitismo — aos quais a direção só responde quando chegam à opinião pública.

No Parlamento Europeu, o FPÖ pertence ao grupo eurocético "Europa das Nações e da Liberdade", junto com partidos como o de Geert Wilders na Holanda ou Marine Le Pen em França, que, aliás, saudaram com entusiasmo a entrada do FPÖ no Governo.

No programa do executivo está a garantia da permanência austríaca na União Europeia, que não vai ser sujeita a referendo (uma ideia do FPÖ que foi afastada – talvez também pela sua fraca popularidade entre os austríacos, onde a maioria defende a permanência na União Europeia).

O FPÖ tem como mantra "representar a voz do povo contra as elites", apresentando aqueles que dele discordam como inimigos ou corruptos (é precisamente esta característica que faz dele um partido populista).