Carrefour volta a ser denunciado por novo caso de racismo em SP

Continua a repercutir fortemente na mídia de Sorocaba – cidade de 659 mil habitantes, situada a 87 Km S. Paulo – o caso do rapaz negro, que foi impedido de caminhar pela pista do estacionamento do hipermercado Carrefour da Zona Norte da cidade, por um segurança, sob o argumento de que “por ser negro e estar de bermuda e calção poderia ser confundido pelos clientes com um ladrão”.

marcos leandro dos santos , quimico discriminado no carrefour em sorocaba (SP) - Reprodução

O caso teve destaque no noticiário de rádios e Tvs locais e aconteceu no dia 11 de novembro passado, mas se tornou público só no início deste mês com a denúncia e lembra outro episódio ocorrido em agosto de 2.009, em que um vigilante da USP – Januário Alves de Santana – por ser negro, foi tomado por suspeito do roubo do próprio carro – um EcoSport, no estacionamento do hipermercado Carrefour de Osasco.

Santana foi espancado por seis seguranças, que foram denunciados por tortura. O Hipermercado indenizou o vigilante em condições consideradas satisfatórias, em acordo extra-judicial porém, o processo penal contra os algozes permanece no Tribunal de Justiça de S. Paulo, aguardando julgamento de recurso.

O rapaz de Sorocaba chama-se Marcos Leandro dos Santos (foto)É químico, tem 29 anos, e trabalha no IML da cidade. Santos não sofreu violência física, porém, garante que a humilhação que passou na frente de dezenas de pessoas, clientes da loja, ou que como ele aproveitavam o sábado de sol, o deixaram em choque, a ponto de ter parado de fazer as caminhadas como fazia habitualmente.

“É uma situação que você não espera e não quer passar. A gente se mostra forte, mas é atingido: eu chorei e ainda choro. Em um dia, perdi o caráter e o respeito que levei a vida inteira para construir. Tudo o que a minha mãe se esforçou para me dar foi jogado fora, mas o que dói mais eles ainda não terem se retratado”, afirma Marcos.

Intimidação

“- ÔOO, o que você faz aqui? Este é um lugar privativo. Você não pode transitar aqui”, gritou o segurança em tom ríspido e ameaçador”, segundo o relato do rapaz.

Marcos conta que ainda tentou saber o motivo, a seguinte resposta: “Por causa da sua cor e porque você está de camiseta, chinelo e bermuda. Os clientes não vão gostar. Saia daqui”. Imediatamente o segurança chamou um colega, que chegou de moto, para retirá-lo do estacionamento.

“Se o problema é minha cor, se estou incomodando por isso, vou procurar os meus direitos”, conta ter respondido Marcos que, bastante abalado, ainda procurou uma amiga que trabalha na recepção do supermercado, e esta lhe perguntou se queria ir para a “salinha”. “Não vou. Não roubei nada. Eu conheço esse lugar, eu vi esse lugar crescer. Não admito isso”, relata o rapaz.

O chefe dos seguranças, posteriormente identificado como Claelson Alves, chegou em seguida, e o homem que o abordou confirmou ter intimado Santos a sair, o que fez com que a Polícia fosse também chamada.

Marcos é popular no bairro por causa de sua participação na Escola de Samba Estrela da Vila. O caso está registrado como “injúria racial”.

Violência e racismo

De acordo com advogados ouvidos pela Afropress, o artigo 5º da Lei 7.716/89, diz que é crime de racismo, com pena de reclusão de um a três anos, “recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador”.

A Coordenadoria da Igualdade Racial, vinculada a Secretaria de Igualdade e Assistência Social de Sorocaba e o Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra da cidade, manifestou indignação pelo ocorrido.

Segundo Joana D’Arc de Almeida e José Marcos de Oliveira, respectivamente, coordenadora e presidente, “este é mais um caso repulsivo e presente na sociedade sorocabana”. “Manifestamos solidariedade, compromisso ético e providências para o pleno desenvolvimento de ações conjuntas de governo e sociedade civil no combate ao racismo”, afirmam em nota.

Joana e José Marcos dizem esperar providências das autoridades e do hipermercado no sentido de reparar a grave ofensa e humilhações sofridas pela vítima, e das autoridades a punição do agressor, com base na Lei.

Outro lado

Em nota o Carrefour disse “repudiar de forma veemente qualquer tipo de discriminação, tendo como um dos seus principais pilares valorizar a diversidade, princípio que está presente também no recrutamento e treinamento das equipes. Assim que tomou conhecimento do relato do cliente, de forma preventiva, afastou imediatamente o segurança terceirizado e iniciou rigorosa apuração interna, que concluiu não ter ocorrido qualquer tipo de discriminação. A empresa reforça que segue à disposição para colaborar com as autoridades."

O caso é investigado no Plantão Norte de Sorocaba pelo delegado, Pedro Luiz Dalboni, que está de férias.