Quatro décadas ao lado de Luiz Carlos Prestes

Esta quarta-feira (3), marca os 120 anos de nascimento de Luiz Carlos Prestes, um dos mais influentes comunistas brasileiros do século 20. Para homenageá-lo, o Vermelho traz um trecho do livro "Meu Companheiro: 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes", de sua esposa, Maria Prestes.

Luiz Carlos Prestes e Maria Prestes com a família - Arquivo

Maria Prestes, jovem militante do Partido Comunista Brasileiro, foi designada para a segurança pessoal do famoso líder comunista, Luiz Carlos Prestes, em 1952. Este foi o início de uma relação que durou até a morte do dirigente, em 1990.

A história dessa mulher, com todos os imprevistos, alegrias, dificuldades e vitórias vividas juntamente com seu querido companheiro, narradas neste livro, proporciona ao leitor uma nova visão do Cavaleiro da Esperança. Nas palavras da ex-presidenta Dilma Roussef, Meu Companheiro nos apresenta “o ponto de vista de uma mulher talentosa e guerreira sobre um período importante da história do Brasil”.

Leia os trechos a seguir:

"O Velho já tinha dito que nenhuma garrafa desse refrigerante americano passaria pela porta do nosso aparelho clandestino. Para Prestes, através da Coca-Cola, o imperialismo estava reforçando sua ideologia.

Mas num belo dia o dono da bodega mandou de presente um engradado para nossa casa. Foi o maior corre-corre: a Julinha Arcoverde, que ainda estava morando conosco, disse que aquilo era um péssimo sinal. Que eu estava permitindo a estranhos interferir na vida reservada que tínhamos que levar.

– Júlia, vamos experimentar essa geringonça! O moço só está querendo ser simpático – disse eu.

– Cruz-credo! Se o Velho souber ficaremos mal, ele vai perder a confiança em nós – respondeu.

Usamos uma dúzia de garrafas de Coca-Cola como detergente, lavamos talheres, pias, descargas etc. Acho que fui a única que tomei um copo escondida. Quando contei ao Velho que tinha experimentado o refrigerante, ele me disse carinhosamente que eu não tinha jeito:

– Acho que é por sua rebeldia que eu gosto de você." (Página 104)

"Meu companheiro Luiz Carlos Prestes nunca foi governo. Ao longo de sua vida de 92 anos elaborou o mito do herói trágico do nosso século. Nunca abrindo mão de suas ideias, se fez igual àqueles que souberam levar adiante o sonho da irmandade espiritual da humanidade. Conhecer a experiência de quem seguiu seus passos na intimidade é se aproximar dos segredos dos homens que ao morrerem se transformam em estrelas." (Página 238)

"O Velho tinha viajado para São Paulo, onde iria fazer palestras. Na casa da família que o hospedou, ele tropeçou numa escada de mármore e caiu. Esse tombo comprometeu seriamente sua coluna.

Transferido para o Rio, foi para a casa da filha Anita e da Lígia, sua irmã mais nova. Teve que ficar na cama com um colete de metal. Não podia se mexer. As duas tinham tanta admiração pelo Velho que ficaram sem jeito para ajudá-lo a tomar banho e fazer as necessidades. Ele também era fogo nessas coisas, ninguém conseguia penetrar na sua intimidade. Por sugestão de uma outra irmã do Velho, a Lúcia, mandaram me buscar na chácara. (…) Ele precisava da minha presença. Dessa forma inesperada, passei a ser oficialmente a mulher de Luiz Carlos Prestes. Se ele não tivesse caído, acho que esta decisão não seria tomada até o início de 1960. – Se não fosse a coluna do Prestes, eu e os meninos ainda estávamos na chácara – brinquei com o Velho." (Página 142)