Poetas e admiradores lamentam morte do repentista Louro Branco

Rapidez de raciocínio, humor aguçado, inteligência, o maior de todos os repentistas. As opiniões sobre Francisco Maia de Queiroz são unânimes. Louro Branco, considerado uma das maiores expressões da cultura popular nordestina, faleceu na última quinta-feira (18), aos 74 anos, vítima de complicações cardíacas. Não faltaram elogios e exaltação ao conterrâneo, filho de Jaguaribe, que se notabilizou como cantador, poeta, repentista, artista popular e divulgador da cultura da região.

Louro Branco

Para Marcelo Nogueira, um fã incondicional e divulgador da obra do cantador, o Ceará e a cultura perderam um grande representante. “Louro Branco tinha inteligência, habilidade e agilidade com as palavras. Com linguagem rápida, respondia sempre com raciocínio sofisticado”, elogia. Já o cordelista Cabo Chico recorda de tê-lo visto em diversas apresentações, dentre elas num festival que organizou em Iguatu, cidade localizada na região Centro-Sul do estado, enquanto secretário de cultura do município. “Ele era um grande repentista, de incrível velocidade de raciocínio. Vi Louro Branco ser aplaudido de pé por colegas da viola e pelo povo que tanto o admirava”, ressalta.

O professor Joan Edesson, co-autor do livro Cordel Umbilical, destacou a unanimidade de Louro Branco. “Morreu o poeta, o último grande repentista do Brasil no sentido de ser unânime entre cantadores e apreciadores da viola. Rápido, representava o sentido exato do repente. Depois dele, não surgiu, nas últimas décadas, ninguém com seu talento e habilidade. Sua unanimidade estava também em sua simpatia. Era um sujeito amigo dos cantadores e dos amantes da cantoria”, reconhece.

Para o cordelista Arievaldo Viana, Louro Branco faz parte de uma geração de cantadores essencialmente repentista e improvisador. “Ele não escreve e nem pensa antes de fazer. Sempre trabalhou com uma rapidez assombrosa”, destaca. O membro da Academia Brasileira de Cordel recorda de tê-lo visto em diversos festivais e ser, por vezes, injustiçado. “Apesar de ter versos geniais, não tinha boa dicção. Mas quem o conhecia, era acostumado com sua fala. Vindo de ambiente rural, sem muito estudo, tinha excepcional cultura e inteligência luminosa”.

Arievaldo destaca ainda a parceria de Louro Branco com o também cearense e repentista Geraldo Amâncio. “Eles eram uma dupla perfeita. Geraldo fazia de tudo para que Louro se sobressaísse. No nosso jargão, servia de ‘escada’, dando o tema pronto para que ele fizesse seus gracejos”, enaltece.

Louro Branco (á dieita) interpretou o Cego Aderaldo no filme de Rosemberg Cariry

"Uma tristeza sem porteiras", afirmou o cineasta e poeta cearense Rosemberg Cariry que, recentemente lançou o filme documentário “Cego Aderaldo: o Cantador e o Mito”, em que Louro Branco faz o papel principal, representando o Cego Aderaldo. Cariry quis com isso  expressar sua a grande admiração pelo grande cantador e improvisador  e que ficasse para a posteridade, divulgada em todo o Brasil, a imagem e a performance desse violeiro sertanejo – um dos últimos de uma geração de grandes talentos. Segundo Rosemberg, Louro Branco era "inteligente e rápido no improviso, com humor afiado e ironia desconcertante, encontrou poucos cantadores à sua altura, tamanha era a sua fama de “cantador de desafio improvisado”, em pelejas que podiam durar horas e, às vezes, uma noite inteira". Rosemberg lamentou que o cantador tenha agonizado pobremente, como quase todos os cantadores, a viola rifada para comprar os remédios que faltavam no tratamento, a “vaquinha” dos amigos para ajudar na alimentação. "Morreu um gigante da cantoria e da arte popular brasileira. A viola está de luto e chora a alma profunda do sertão", enfatizou.

Considerado um de seus maiores parceiros, Geraldo Amâncio destaca o que Louro representa para a cantoria. “É o maior repentista do mundo”. “Louro Branco foi um grande parceiro, um orgulho para nós cearenses que, ao lado de Patativa do Assaré, nosso maior poeta popular, e de Cego Aderaldo, o mais famoso deles, consolidou a cultura do Estado e da Região de forma brilhante. Com ele se foram a irreverência, o humor e a graça. Para ele não há substituto”, ratifica.

E, em versos, Geraldo Amâncio homenageia o amigo:

A viola calou-se, o som sumiu
Toda rima está vesga, o verso manco
Com a morte do grande Louro Branco
Que a convite de Deus ao céu subiu.
Se tem substituto, ninguém viu
No passado, nem tem atualmente.
Nós perdemos a última semente
Que o roçado do verso safrejou
A lagarta do tempo devorou
Os maiores artistas do repente.