Estudantes estão em Porto Alegre para defender a democracia

Lideranças estudantis históricas realizaram ato em apoio a Lula. "Ou enfrentamos a injustiça ou eles vão passar por cima de nós".

Marianna e lideres da Une - Foto: Francisco Proner

"Estamos trazendo nossas sedes para Porto Alegre não para demonstrar apoio eleitoral ao ex-presidente Lula. Os estudantes estão aqui para defender a democracia como princípio”, afirmou a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Marianna Dias. A entidade, em parceria com a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), anunciou a transferência simbólica de suas sedes para a capital gaúcha, com o objetivo de fortalecer as manifestações em defesa do direito de Lula ser candidato à presidência no pleito deste ano.

A transferência foi marcada por um ato realizado na tarde desta segunda-feira (22), no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Participaram do evento diversos estudantes, além de lideranças atuais e históricas das entidades, como o ex-presidente da UNE Aldo Arantes, que esteve à frente da organização em 1961. “Fui preso político, vivi na clandestinidade e fui deputado por duas vezes. Porém, as pessoas lembram de mim como ex-presidente da UNE, o que me deixa muito orgulhoso”, disse.

Histórico presidente da UNE Aldo Arantes é saudade por lideres estudantis  (Foto: Guilherme Imbassahy)

Arantes foi o primeiro a falar aos presentes e aos internautas que acompanharam a transmissão via redes sociais. Em sua apresentação, o ex-presidente da entidade falou sobre um importante momento do país que aconteceu durante sua gestão, a campanha da legalidade, comandada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que liderou uma mobilização em defesa da posse do vice-presidente, João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961.

“Vivemos um momento que, guardadas suas diferenças, podem ser pensado de forma semelhante. Vivemos (à época) a tentativa de um golpe que foi fracassada. Agora, também não vão conseguir impor a consolidação deste outro golpe”, pontuou. Setores militares, como comandos da Aeronáutica, pretendiam romper com a ordem jurídica para impedir a posse do vice de Jânio, que estava em visita à China. Para defender a normalização democrática, Brizola falava com a população por meio da Rádio Guaíba, em um estúdio montado no porão do Palácio do Piratini, sede do governo do estado.

Naquele ano, a UNE tomou a mesma atitude deste janeiro de 2018: transferiu sua sede para Porto Alegre, onde foi recebida “de braços abertos” por Brizola, como conta Arantes. “Naquele momento, os estudantes foram a base de apoio pela legalidade”, relembrou.

“Assim como no passado, mais uma vez, a UNE estará ao lado da retomada do caminho da democracia, da liberdade e da justiça. O golpe contra a presidenta Dilma se voltou contra tudo de bom que foi feito nesse país. Como Lula continuou e teve a sensibilidade política de não ficar parado, ele está no caminho de virar a situação. Tenhamos clareza: esse julgamento vai marcar a história política brasileira”, completou Arantes.

Instrumentos democráticos

A ex-presidenta da UNE Carina Vitral, que esteve à frente da entidade na resistência contra o impeachment de Dilma em 2016, afirmou que o Judiciário pode tentar “melar o jogo”, impactando negativamente na possibilidade dos brasileiros de exercerem o direito ao voto. “Querem impedir que um importante líder esteja nas urnas. Lula é atacado pelo partido da Lava Jato, assim como os movimentos sociais e a imprensa livre e independente. A universidade brasileira também está na mira do partido do Judiciário”, disse.

Deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) e o presidente da Ubes, Pedro Gorki participaram do eto estudantil (Foto: Guilherme Imbassahy)

Já o também ex-presidente da UNE durante a campanha em defesa do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, e atual senador Lindbergh Farias (PT-RJ), lamentou a fragilidade da democracia brasileira. “A democracia sempre foi exceção. Se querem colocar o país na instabilidade, nós vamos lutar nas ruas e nas urnas. A gente só vai derrotar este golpe com mobilização popular.” Posição também defendida pela pré-candidata à presidência pelo PCdoB, Manuela D’Ávila, que presente ao ato. “Defender a candidatura do Lula é defender de forma profunda e radical a democracia.”

Por fim, falou a presidenta do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR). “O que está em jogo aqui é o direito ao voto de parcela expressiva da população. Vivemos uma democracia de baixa intensidade, onde o voto é o principal instrumento. Ver esse instrumento ser atacado nos deixa muito preocupados”, reiterou.

“Ou enfrentamos a injustiça ou eles vão passar por cima de nós. Isso está sendo construído desde o impeachment. Eles querem disputar as eleições só entre eles, sem mudar o projeto ou o programa. Se eles queriam fazer o enfrentamento, deram a largada. Se esperavam que estaríamos desmobilizados agora em janeiro, enganaram-se. O Brasil está mobilizado, de olho em Porto Alegre. Viemos para cá não apenas para ver os juízes. Viemos para mostrar que nós existimos e resistimos. Que vamos lutar pela democracia”, completou.


Foto: Francisco Proner

Assista ao vídeo do ato em Porto Alegre: