MST e CTB lamentam morte de liderança dos sem terra na Bahia
O assassinato do trabalhador rural Márcio Matos, o Marcinho, foi recebido com revolta e tristeza em meios aos movimentos sociais e sindicais no Estado da Bahia. O crime de que foi vítima o jovem dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra aconteceu na quarta-feira (24). Segundo informações do MST, Marcinho levou três tiros diante do filho de seis anos. O MST e a CTB Bahia pedem apuração e se solidarizam com os familiares.
Publicado 26/01/2018 19:34

"A morte do companheiro se soma a um triste cenário nacional de violência contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo", afirma trecho da nota do MST. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 65 pessoas foram assassinadas em conflitos no campo em 2017, o que confere ao Brasil o título de país mais violento às populações camponesas no mundo, lembrou o MST em nota.
"Muitas das conquistas que tivemos nos últimos anos, Márcio esteve como um dos idealizadores, colocando em prática princípios como a solidariedade e o companheirismo, sem deixar passar despercebido valores forjados no bojo das lutas, como a sensibilidade política, a compreensão, o diálogo e uma incansável capacidade de se indignar com as injustiças", completou o movimento.
“A Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Bahia (CTB-BA) lamenta profundamente a morte de Márcio Matos e considera seu falecimento uma grande perda para os movimentos de luta pela terra e para aqueles que lutam por mais igualdade e justiça social. A entidade presta total solidariedade aos familiares e amigos do dirigente e cobra a rápida e rigorosa apuração do caso”, ressaltou a Central.
Confira na íntegra a nota do MST:
Toda nossa rebeldia quando matam um Sem Terra
É com pesar e revolta que recebemos a triste notícia do assassinato do companheiro Márcio Matos (33), dirigente do MST e referência política na luta pela terra no estado da Bahia. Marcinho, como era conhecido, foi morto na noite desta quarta-feira (24), em sua casa, localizada no Assentamento Boa Sorte, em Iramaia, na região da Chapada Diamantina. Segundo relatos dos familiares e amigos, o dirigente foi morto com três tiros na frente de seu filho.
Natural de Vitória da Conquista, no sudoeste baiano, tornou-se uma das principais lideranças Sem Terra no estado, conhecido pela articulação com os partidos de esquerda, movimentos e organizações populares. No MST, assumiu a direção nacional ainda jovem e permaneceu na tarefa por oito anos, se destacando pelo perfil de mobilizador das massas.
Pai, camponês, filho da classe trabalhadora e comprometido com a transformação social, Marcinho assumiu, no último período, a Secretaria de Administração de Itaetê e contribuiu diretamente com a Esquerda Popular Socialista (EPS), corrente interna do Partido dos Trabalhadores (PT).
Muitas das conquistas que tivemos nos últimos anos, Márcio esteve como um dos idealizadores, colocando em prática princípios como a solidariedade e o companheirismo, sem deixar passar despercebido valores forjados no bojo das lutas, como a sensibilidade política, a compreensão, o diálogo e uma incansável capacidade de se indignar com as injustiças.
A morte do companheiro se soma a um triste cenário nacional de violência contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo. 2017, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), foi um ano sangrento. “O contexto vivido pelos povos da terra, das águas e das florestas exigiu teimosia, resistência e questionamento sobre o papel do Estado”, explica a entidade. Diante disso, aponta alguns dados parciais sobre a violência no campo. Segundo a Comissão foram 65 pessoas assassinadas em conflitos no campo, em muitos casos com requintes de crueldade, índice que confere ao Brasil o título de país mais violento às populações camponesas no mundo.
O cruel assassinato de Marcinho nos lembra que há cinco anos perdemos o companheiro Fábio Santos, que também era dirigente desta organização. Fábio foi assassinado com 15 tiros na frente de sua companheira e filhos, no percurso que realizava entre a sede do município de Iguaí ao distrito de Palmeirinha, ambos no Sudoeste da Bahia. Até então, ninguém foi preso e a impunidade persisti.
Este é um momento de luto, mas também de luta. Por isso, exigimos que a Justiça inicie imediatamente as investigações sobre o assassinato de Márcio. Não permitiremos que essa morte passe em puni e daremos continuidade a luta popular travada por ele nas diversas trincheiras.
Nos solidarizamos com os familiares, amigos e toda militância Sem Terra que encontra-se mobilizada nos assentamentos e acampamentos espalhados pela Bahia e juntos faremos nosso choro de repúdio ser escutado. Por isso, seguiremos em marcha, de cabeça erguida, contra o capital, o agronegócio e em defesa do Socialismo, para que o sangue dos trabalhadores, que pinta nossa bandeira de rebeldia, seja um dos motivos há mais que temos para permanecer em luta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.
Bertold Brecht
Companheiro Marcinho
Presente, presente, presente!