O movimento Nem Uma a Menos italiano ocupa 40 cidades
"Somos maré, viramos tempestade". De Roma à Milão, so Sul ao Norte, o movimento feminista "Non Una di Meno" (Nem Uma a Menos) reivindica a "renda autodeterminada". Força do século 21: contra a violência machista, o assédio sexual, a precariadade do trabalho. Hoje, a greve geral nacional convocou a paralização por 24 horas, desde a escola até o transporte local transporte local; elas colocam e explicam suas reivindicaçãoes, especialmente em relação ao trabalho
Publicado 08/03/2018 14:04
O movimento feminista Nem Uma a Menos, uma das novidades mais significativas na política italiana, realizara protestos em mais de 40 cidades nesse 8 de março, convocando as mulheres para aderirem a greve geral. De Roma até Milão, depois em Torino, Bologna, Bari, Salerno, Reggio Calabria, toda a peninsula será tomada por aquilo que se autodefine uma "maré".
"Maré" é um conceito muito preciso que indica a expansão e a não redução de um movimento às formas tradicionais de "política" e "representação". "Maré" é, por si só, a forma de poderm elemento primário da política.
"Fazer a greve é um grande desafio porque nos chocamos com a chantagem do trabalho precário ou a permissão de residência", afirmam as ativistas. Fazer greve pode parecer impossível quando estamos isoladas, divididas e sabemos que o direito de entrar em greve sofre restrições cotidianas". Como aquela que hoje impedirá diversas categorias de trabalhadoras de aderir à greve, devido as limitações impostas pelas franquias eleitorais que impedem a paralização nos cinco dias seguidos as eleições do último domingo (4).
Apesar dessas dificuldades, o impulso do movimento não fraquejou. Na jornada global de greve aderiram também entidades e movimentos como o Greenpiece, a ARCI, a União Sindical de Base italiana, entre outros movimentos sociais. Os sindicatos de base pediram uma paralização geral de 24 horas no setor público e privado, ou seja, transporte publico local, trem, aviação, escolas e escritórios. A aliança com o sindicalismo é decisiva, e não foi fácil. No 8 de março de 2017, aconteceram polêmicas com diversos sindicatos de base. Mas o movimento avançou, e não para: "diante da maior mobilização mundial das mulheres, os sindicatos deveriam aproveitar essa ocasião fazendo parte do processo que visa combater a violência machista e de gênero. Esses são fatores que contribuem para a precarização do trabalho".
Hoje muitos ambientes de trabalho serão inundados pelas pautas feministas: foi feito um manifesto contra a violência provocada pelo machismo, um documento de 57 páginas fruto de uma elaboração coletiva que durou meses, um texto de conteúdo prático e teorico notável. A luta acontece dentro e fora do local de trabalho, dentro e fora das relações de trabalho precário e intermitente.; está na totalidade da subjetividade feminina e masculina, tanto na produção quanto na reprodução. "Nós derrubamos hierarquias sexuais. As normas de gênero, os papéis socialmente impostos, as relações de poder que geram abusos e violência". Aqui, a crítica é que as relações de produção estão intimamente ligadas às formas de vida incorporadas em culturas patriarcais, autoritárias e racistas.
A reivindicação central do movimento é a "renda autodeterminada", independente do trabalho e da permissão de residência. Essa renda é acompanhada da reivindicação de um salário minimo europeu e um welfare "universal, gratuito e acessível". O objetivo é garantir autonomia e liberdade "sobre os nossos corpos e sobre as nossas vidas. Queremos ser livres para nos mexermos".
Os locais de atuação do Nem Uma a Menos são tão numerosos quanto os vídeos e os documentos na web. Elas elaboraram algumas perguntas sobre a realidade do trabalho hoje. São denúnciados os abusos sexuais sofridos no trabalho, a enorme diferença salarial que penaliza as mulheres, especialmente no Sul do país. Segundo dados dos Svimez (responsável por calcular a taxa de desenvolvimento na Itália), uma mulher graduada ganha 300 euros a menos do que um homem. É uma realidade comum, fruto do sistema. É por isso que é necessária uma generalização do movimento. Uma convicção que o empurrou a "passar da denúncia individual do #metoo para a força coletiva do #wetoogether, tangendo o trabalho produtivo e reprodutivo, pago ou gratuito.