Fórum Social: Espaço de debate e luta para propostas globais

O Fórum Social Mundial de 2018 aconteceu entre os dias 13 e 17 de março, em Salvador (BA). Foi marcado pela presença representantees de 120 países que voltaram os olhos para o Brasil. Para Edson França, membro do Comitê Facilitador do Fórum, o evento foi marcado por homenagens à vereadora Marielle Franco, assassinada no dia 14 de março, e também pela Assembleia Mundial das Mulheres que reuniu dez pontos da luta feminina com participação de mulheres de diversas culturas.

Fórum Social Mundial 2018 - Vangli Figueiredo/UJS

Em meio às atividades que debateram alternativas e estratégias de enfrentamento ao neoliberalismo, a Assembleia Mundial das Mulheres ganhou destaque durante o Fórum Social Mundial de 2018. Mais de 5 mil mulheres diversas etnias e culturas, entre elas chinesas, curdas, inglesas, saarauis e brasileiras, chegaram à conclusão de dez pontos inegociáveis da luta feminina que devem ser debatidos.

“A Assembleia das Mulheres ,que chegou aos dez pontos inegociáveis, foi um avanço surpreendente e aconteceu pela primeira vez no Fórum. Nela, mulheres de diversos países pactuaram com todos os pontos de um documento e essa é uma grande vitória do Fórum”, disse Edson França, membro do Comitê Facilitador do Fórum Social Mundial de 2018 e Secretário Adjunto Nacional de Movimentos Sociais do PCdoB.

Os dez pontos acordados entre essas mulheres foram: fim do feminicídio e formas de violência; direito de as mulheres decidirem sobre o seu corpo; emancipação e poder político; fim da utilização do corpo das mulheres como arma de guerra; acesso universal à educação emancipadora e não sexista; contra o racismo, o genocídio e o encarceramento da população negra; reconhecimento da identidade de gênero com respeito e dignidade; contra a misoginia, silenciamento e a invisibilização das mulheres; contra o patriarcado; contra o capitalismo e o imperialismo.

Ainda dentro da pauta feminista, Edson afirmou que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) causou grande comoção em todos os participantes do evento. Muitas mulheres entoaram a frase: “Marielle presente” durante as atividades.

Para Edson, o Fórum deste ano foi extremamente positivo, com a participação de 80 mil pessoas, cerca de 2.100 oficinas  e mais 900 atividades que aconteceram fora da programação, totalizando 3 mil atividades diretas e indiretas. Inclusive, a abertura política do Fórum, que aconteceu com Marchas dos Povos, que fez o percurso do Campo Grande até a praça Castro Alves, foi uma grande manifestação que há tempos não era vista e com a participação de organizações brasileiras e internacionais.

“Acredito que a questão racial teve relevância porque o Fórum aconteceu na Bahia, e a Bahia é o segundo estado com mais negros do país e Salvador é o segundo município com maior número de negros do mundo – só perde para Lagos, na Nigéria. Então o evento atraiu muitos africanos, atraiu o movimento negro latino americano e também o movimento negro norte-americano. Então o Fórum foi um espaço onde o debate sobre o racismo teve muito destaque”.

Houve também um acampamento indígena, com 600 indígenas de 27 etnias diferentes. Participaram 1.200 voluntários de 120 países da América Latina, África e Europa.

Questionado sobre o momento em que o Fórum foi realizado no Brasil logo após o afastamento de Dilma Rousseff, Edson explicou que a vinda do FSM faz parte da necessidade de mostrar ao mundo o que realmente está acontecendo no país e não deixar que a grande mídia passe uma outra imagem do momento pelo qual o Brasil realmente passa. Sendo que, a proposta do Fórum ser realizado no Brasil, foi de Álvaro Gomes (PCdoB) que foi ex-deputado estadual na Bahia.

Para ele, o Fórum foi um momento de buscar solidariedade mundial para que o retorno de um pensamento mais progressista e comprometido com um projeto nacional, ou seja, comprometido com a defesa do povo e a defesa dos direitos.

Houve também o Ato em Defesa da Democracia, com a presença de lideranças políticas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Manuel Zelaya, ex-Presidente de Honduras e da pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D'Ávila.

Edson França frisou que o Fórum teve forte participação dos comunistas, com a participação do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), com três atividades importantes da Fundação Maurício Grabois: o lançamento do Manifesto em Defesa da Nação, o Ato das Centrais e a Defesa pela Democracia. Além da participação da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), da União Brasileira das Mulheres (UBM) e da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam).

Edson França (ao centro) durante o Fórum Social Mundial de 2018

Uma das atividades que chamou mais atenção dos participantes foram os debates sobre a área da saúde, onde houve a discussão sobre a democracia da saúde e do Sistema Único de Saúde com a coordenação de Ronald Ferreira dos Santos, do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

Participaram a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos do debate sobre a universalização do sistema de saúde e o desenvolvimento nacional e a luta em defesa da democracia.

Expectativa

De acordo com o membro do Comitê Facilitador, o objetivo para os próximos anos é desenvolver uma agenda com pautas e propostas para o futuro.

“Nossa expectativa é de avançar no pensamento de que o Fórum precisa falar para fora, com muito mais países porque assim, cada vez mais, a consciência cresce. O evento precisa ser um espaço que incida na realidade do mundo. Precisamos pegar as ideias e debates do Fórum para construir propostas e pactos globais que nos leve a uma ação concreta”, finalizou Edson em entrevista ao Vermelho.